Lapin – Análise
O título não deixa margem para dúvidas, Lapin é um jogo sobre coelhos. Mais concretamente, é um jogo de plataformas em 2D da produtora sul-coreana Studio Doodal, onde os protagonistas são coelhos com umas vidas peculiares, e onde vamos dar muito uso aos nossos reflexos e sobretudo, à tentativa e erro. À partida podemos pensar que é mais um jogo simples e fácil de abordar. As personagens têm um aspeto de quem saiu de um livro infantil, e a nossa protagonista é uma jovem coelha com a ingenuidade de uma criança em relação aos outros quatro coelhos que habitam na toca. ‘Toca’ é apenas um nome, trata-se de uma autêntica residência, com quartos individuais, sala de estar, cozinha, refeitório e afins. Por motivos que desconhecemos naquele momento, os cinco coelhos têm de abandonar a toca e seguem um mapa para encontrar uma expedição de um grupo anterior de coelhos que procurava algo como um paraíso para os nossos amigos de orelhas compridas.

A jogabilidade é de facto simples de compreender, já que a interação não é complexa e é fácil de nos habituarmos aos controlos. Os primeiros dois capítulos (num total de seis) apresentam desafios triviais, onde temos de realizar saltos com destreza e precisão. Lapin coloca a ênfase nesta mecânica, saber realizar os nossos saltos com precisão e encontrar um bom “timing” é fundamental. A partir do terceiro capítulo a dificuldade torna-se mais exigente, e a margem para erros diminui. Felizmente os erros não se pagam caro. Se falharmos, voltamos ao início do ecrã, e não existe limite de tentativas. Cada nível apresenta uma nova mecânica, onde se incluem flores que produzem túneis de vento e blocos com energia suficiente para nos catapultar a uma distância elevada. Lapin permite ainda escolher entre um nível de dificuldade ‘normal’ e outro mais fácil, que retira alguns obstáculos. Esta escolha pode ser feita a qualquer momento e com aplicação imediata, e em alguns pontos é realmente tentador selecionar a dificuldade mais fácil para ultrapassar um obstáculo mais complicado.
A curva de aprendizagem encontra-se bem implementada. Dominar uma mecânica nova é feito de forma rápida, e embora seja comum precisarmos de várias tentativas para ultrapassar os obstáculos mais bicudos, é um bom exemplo de como muita prática nos leva longe. É proibido pensar que Lapin é apenas um simples jogo de plataformas, já que não demora muito tempo até estarmos a tentar uma e outra vez para abordar uma série de obstáculos extremamente delicados. Vai também ser precisa persistência para encontrar as sementes que se encontram em cada capítulo. Embora não sejam obrigatórias para terminar o jogo, ajudam a encaixar as peças da história.

Por falar em história, esta revela-se através dos diálogos com os outros coelhos e de elementos que encontramos pelo caminho, bem escritos e que se inserem bastante bem no enredo. O que de início parece ser um simples pretexto para sairmos da toca torna-se bem mais importante à medida que avançamos. Percebemos então porque tivemos de sair da toca, o que aconteceu no passado dos outros coelhos, como eram as suas relações com os humanos, e em alguns momentos descobrimos coisas que nos surpreendem num jogo com o aspeto de Lapin. Alguns desenvolvimentos são trágicos e revelam a coragem das personagens, transformados aqui em pequenos heróis com motivos altruístas, e a nossa protagonista exibe um desenvolvimento notável da sua personalidade e da sua amizade com os outros coelhos.
Em alguns momentos desbloqueamos recordações interativas, onde somos transportados ao passado recente, antes do início da ação, para uma série de momentos-chave para compreender as relações entre as personagens. Em vez de o jogo as exibir apenas como diálogos, elas colocam o jogador a realizar tarefas, embora muito pouco exigentes. Percebe-se porque foram implementadas desta forma, para evitar que o jogador se aborreça, mas os momentos interativos destas recordações são pouco motivantes. Os diálogos, tanto nestas recordações como durante o jogo, são longos, o que por vezes pode cortar um pouco o ímpeto à experiência, mas vale a pena resistir a passar à frente, já que Lapin traz consigo uma bagagem bastante grande e que nos deixa curiosos para saber mais.
Tudo isto decorre num meio em 2D, como já foi referido, e que recebeu um belo trabalho artístico. Os cenários são semelhantes a algo saído de um álbum de banda desenhada com uma paleta de cores que por vezes se assemelha a um sonho. Os capítulos decorridos num parque e numa floresta dão mais ênfase a um cenário com um aspeto mais natural, enquanto o capítulo no subsolo é mais escuro e misterioso, mas sem nunca se tornar demasiado opressivo. Nota muito positiva para as cores, efeitos de luz (sobretudo no capítulo final, numa cidade dos humanos) e para as camadas de objetos nas secções de ambientes mais ricos. A animação dos protagonistas é simples, mas muito bem implementada, dando-lhes o aspeto de personagens de animação, enquanto a banda sonora consiste sobretudo em composições emotivas e que em alguns momentos, criam um ambiente perfeito.
CONCLUSÃO
CONCLUSÃOPontos positivos
- Desenho de níveis e curva de aprendizagem
- Enredo surpreendente e motivante
- Ambiente visual belíssimo
Pontos negativos
- Alguns diálogos são um pouco longos
- Talvez um pouco duro com jogadores novatos

Apreciador de jogos de outras épocas, não diz que não a uma boa obra dos nossos tempos. Diz-se que é por ele que passam os textos antes da publicação, o que significa que é uma espécie de boss final da escrita para os outros membros da equipa.

