Yakuza Kiwami – Análise
Depois de Yakuza 0 ter marcado a estreia da série na Nintendo Switch 2, Yakuza Kiwami chega agora à nova consola da Nintendo para dar continuidade à história de Kazuma Kiryu. Trata-se de um “remake” completo do primeiro Yakuza, lançado originalmente na PlayStation 2, e que reconta o início desta icónica série de drama policial com um ambiente audiovisual e mecânicas atualizadas. Na cronologia da série, Kiwami segue diretamente os acontecimentos de Yakuza 0, permitindo aos jogadores retomar a história logo após a prequela. A chegada de Kiwami à Switch 2 cimenta a presença da série na consola, e traz aos novos jogadores a oportunidade de acompanhar os capítulos iniciais por ordem cronológica.

O nosso protagonista Kazuma Kiryu é um membro leal de uma família da Yakuza que, em meados dos anos 90, assume a culpa por um crime que não cometeu para proteger um amigo. Depois de uma década na prisão, Kiryu regressa em 2005 a um mundo que avançou sem ele: o clã está em tumulto, 10 mil milhões de ienes desapareceram misteriosamente dos cofres da organização, e antigos aliados tornaram-se inimigos. O enredo desenvolve-se como um “thriller” de crime e castigo nas ruas fictícias de Kamurocho (inspiradas no bairro de Kabukicho, em Tóquio), onde Kiryu tenta descobrir a verdade por detrás do dinheiro desaparecido enquanto protege Haruka, uma jovem órfã ligada ao mistério. O enredo é conduzido com um tom sério e emotivo, explorando temas de honra, traição e família, numa autêntica montanha-russa emocional. Os fãs da série sabem que podem esperar diálogos dramáticos e reviravoltas dignas de romance policial, e Kiwami é muito competente nesse aspeto: o enredo é linear e relativamente previsível em certos pontos, mas narrado de forma competente e envolvente. Kiryu continua a ser um protagonista carismático e íntegro, contrastando com o elenco colorido à sua volta, de aliados fiéis a vilões impiedosos. Mesmo para quem não conhece a série, é fácil interessar-se pelo destino destas personagens graças ao modo como o jogo equilibra momentos de tensão com laivos de humanidade e até humor. Vale a pena notar que o jogo inclui as vocalizações originais em japonês com legendas em várias línguas, incluindo pela primeira vez português do Brasil.

Vamos encarnar Kiryu pelas ruas de Kamurocho, onde são frequentes as lutas contra gangues rivais e um ou outro malfeitor. O sistema de combate é de ação direta e avançou face ao jogo original, incorporando algumas melhorias trazidas pela prequela Yakuza 0. Kiryu dispõe assim de vários estilos de luta, cada um com os seus pontos fortes. Podemos alternar entre a força bruta do estilo Beast (que usa objetos pesados como armas), a agilidade do estilo Rush para nos esquivarmos e contra-atacarmos, ou o equilíbrio do estilo Brawler para realizar combos. Executar as chamadas Heat Actions (movimentos especiais cinemáticos) continua a ser um prazer, seja atirar um adversário contra a parede de um beco iluminado a néon ou usar itens do cenário como bicicletas ou placas para finalizar as lutas com estilo. Yakuza Kiwami introduz ainda um elemento único chamado Majima Everywhere. Goro Majima, o excêntrico rival de Kiryu, surge inesperadamente nas mais variadas situações e disfarces para o desafiar para combates. Este sistema traz uma boa dose de humor e imprevisibilidade à experiência, uma vez que nunca sabemos quando vamos dar de caras com Majima, pode estar a sair de um táxi ou disfarçado de polícia. Estes combates ajudam Kiryu a recuperar a sua forma lendária à medida que enfrentamos Majima repetidamente e desbloqueamos habilidades que ficaram enferrujadas durante os anos de prisão. Apesar de algumas dessas lutas se tornarem algo repetitivas a longo prazo, compõem a experiência e incentivam o jogador a estar sempre preparado para a próxima surpresa.

Para além da história principal, que pode durar de 15 a 20 horas, Kiwami traz ainda algum conteúdo secundário, habitual na série Yakuza. Kamurocho é um espaço bem recriado, cheio de vida, e com bastantes missões secundárias. Continuam hilariantes ou comoventes, e mostram o lado humano (por vezes absurdo) dos habitantes. Numa missão podemos ajudar um autor envergonhado a comprar uma revista para adultos, noutra acabamos num confronto insólito contra um pretendente obsessivo. Já os minijogos e atividades merecem destaque. Podemos ir cantar karaoke num bar, jogar dardos ou bilhar, participar em corridas de carrinhos telecomandados no Pocket Circuit ou jogar mahjong. Há até uma arena de combates para lutar em desafios especiais. O conteúdo é de qualidade, mas está muito longe da diversidade e riqueza de Yakuza 0, e quem tem essa experiência pode achar a oferta algo desapontante. Yakuza Kiwami é por natureza uma experiência a solo centrada no enredo, sem uma vertente multijogador. No entanto e dentro da sua oferta para um jogador, encontram-se alguns modos e extras que lhe prolongam a longevidade. Após terminar a campanha principal, podemos aceder à Premium Adventure, um modo de exploração livre que permite continuar em Kamurocho para concluir quaisquer missões secundárias ou atividades pendentes sem a pressão do enredo. Para os mais competitivos, há também um conjunto de desafios opcionais, Climax Battles, que são pequenas provas de combate com condições específicas.
Sendo um “remake” feito originalmente para a geração PlayStation 4/Xbox One, Yakuza Kiwami não coloca demasiada pressão sobre a Switch 2, e isso reflete-se numa conversão bastante competente. A grande vantagem desta versão reside no desempenho: o jogo corre a 60 fps na Switch 2, e a sensação de fluidez é excelente, tanto no ecrã da consola como numa televisão. A diferença é visível face à versão para a Switch original (limitada a 30 fps). No entanto esta entrada na Switch 2 não passou pelo mesmo tratamento que Yakuza 0 Director’s Cut, e nota-se menor qualidade nas texturas, nos rostos das personagens e nos efeitos de luz, elementos em que se encontra algo datado.
CONCLUSÃO
CONCLUSÃOPontos positivos
- História envolvente, cheia de drama e de personagens interessantes
- Combate variado e satisfatório com estilos múltiplos
- Desempenho técnico irrepreensível
Pontos negativos
- Escala muito abaixo de Yakuza 0
- Ausência de novidades substanciais além do desempenho
- Alguns elementos visuais e modelos um pouco datados

Calorias, nutrientes e Nintendo. Três palavras que definem o maior fã de F-Zero cá do sítio. Adepto de hábitos alimentares saudáveis, quando não anda atrás de uma balança, costuma estar ocupado com as notícias mais prementes e as análises mais exigentes.

