Please, Touch The Artwork – Análise
A fronteira que separa a ideia convencional de um videojogo de uma apresentação de ideias abstratas torna-se cada vez mais ténue, em grande parte graças aos esforços dos jogos “indie”. Please, Touch The Artwork, desenvolvido pelo Studio Waterzooi (Bélgica), insere-se confortavelmente num espaço menos convencional e onde a representação de ideias abstratas é fundamental na construção da jogabilidade, levando a transposição da arte feita a partir de si mesma de forma literal e exponencial. Neste jogo independente somos colocados na pele de um visitante de uma galeria de arte cujo foco assenta na obra do artista holandês Piet Mondrian, conhecido pelas suas obras abstratas.
![](https://www.starbit.pt/wp-content/uploads/2022/09/NSwitchDS_PleaseTouchTheArtwork_01.jpg)
Please, Touch The Artwork segue o que o título sugere e elimina as barreiras físicas entre o visitante e a obra, incentivando-nos a interagir com as pinturas sob a forma de “puzzles”. Esta interação é um meio para um fim maior: conhecer a generalidade do repertório artístico de Mondrian, além de promover uma reflexão através de frases e poemas temáticos depois de concluídos alguns níveis. Não há propriamente um enredo que justifique o nosso papel intervencionista nesta galeria, isso cabe a cada jogador para interpretar à sua maneira.
Os “puzzles” estão divididos em três tipos. O primeiro, denominado “The Style”, remete-nos aos quadros mais conhecidos de Mondrian, onde as formas geométricas e as cores primárias são o foco dos desafios. Inicialmente o objetivo prende-se com colocar as linhas corretas numa tela em branco, formando o espaço e a forma do quadro, seguindo-se a coloração dos mesmos e onde uma interação (leia-se pintura) no canto superior direito terá uma reação igual no sentido oposto. A chave é tentar perceber o padrão e a maneira como as nossas interações se refletem no ecrã. É o tipo de “puzzle” mais desafiante, com um grau de complexidade que o torna muitíssimo exigente para completar à primeira. Acabamos então a refazer de novo e de novo num exercício de tentativa e erro. No segundo tipo de “puzzles”, conhecido como “Boogie Woogie”, temos como missão unir Woogie, um quadrado, e Boogie, outro quadrado que tem de ser preenchido pelo anterior e que se encontram em extremidades opostas do ecrã. Vamos então permitir que um dos quadrados se mova na direção do outro, com um número limitado de tentativas e calculando o melhor trajeto. Acaba por ser o menos interessante dos três tipos de “puzzle”. O terceiro, “New York City”, é o mais cativante e funciona como um jogo de Snake onde se guia um tracejado de uma ponta à outra, apanhando quadrados pelo caminho. Não há aqui grande segredo e tal como nos outros dois, o tempo não compromete a diversão pelo caminho. Não se trata de um jogo longo, e tudo depende da perícia e acima de tudo, da paciência para levar ao fim cada conjunto de desafios.
Please, Touch The Artwork foi lançado originalmente para dispositivos móveis, pelo que a jogabilidade é curta e direta, sem qualquer problema de desempenho na Nintendo Switch onde encaixa como uma luva enquanto experiência portátil, com uma jogabilidade que utiliza o ecrã táctil de forma intuitiva. A palavra de ordem é mesmo a simplicidade, ainda que se encontre um certo toque de emoção. Cada nível faz parte de algo maior e cada tipo de “puzzles” aborda um tema, seja o vínculo e conciliação, a harmonia e pragmatismo de uma cidade, até à dualidade entre a vida urbana e a rural. Acaba também por ser uma obra didática referente a uma parte da História da Arte. O jogo não conta com qualquer tipo de tutorial ou manha para passar os níveis à frente, cabe inteiramente ao jogador analisar e reter tudo de forma intuitiva. Existe um sistema de recomendações que capta algumas informações sobre o estado de espírito e expectativas do jogador e nos entrega um dos três conjuntos de “puzzles” que melhor se adequa, embora o número de varíaveis seja sempre baixo. Como última nota, destaque positivo para a banda sonora à base de jazz e que mergulha o jogador num ambiente de uma galeria de arte.
CONCLUSÃO
CONCLUSÃOPontos positivos
- Jogabilidade acessível e bem executada
- Banda sonora de jazz
- Quebra a barreira entre a arte e o jogador de forma disruptiva
- Um convite a conhecer a vida e obra de Mondrian
- Original e pouco convencional
Pontos negativos
- Maior variedade de "puzzles" seria bem-vinda
- Falta de homogeneidade na qualidade e dificuldade dos desafios
![](https://www.starbit.pt/wp-content/uploads/2020/06/starbit-23-1.png)
Entusiasta do mundo da Big N desde os tempos da Wii. Incontornável fã das plataformas de Mario à imersão de Metroid, da aventura de Zelda à estrategia de Pikmin, dispensando apenas a tranquilidade de Animal Crossing.