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Please, Touch The Artwork – Análise

A fronteira que separa a ideia convencional de um videojogo de uma apresentação de ideias abstratas torna-se cada vez mais ténue, em grande parte graças aos esforços dos jogos “indie”. Please, Touch The Artwork, desenvolvido pelo Studio Waterzooi (Bélgica), insere-se confortavelmente num espaço menos convencional e onde a representação de ideias abstratas é fundamental na construção da jogabilidade, levando a transposição da arte feita a partir de si mesma de forma literal e exponencial. Neste jogo independente somos colocados na pele de um visitante de uma galeria de arte cujo foco assenta na obra do artista holandês Piet Mondrian, conhecido pelas suas obras abstratas.

Please, Touch The Artwork segue o que o título sugere e elimina as barreiras físicas entre o visitante e a obra, incentivando-nos a interagir com as pinturas sob a forma de “puzzles”. Esta interação é um meio para um fim maior: conhecer a generalidade do repertório artístico de Mondrian, além de promover uma reflexão através de frases e poemas temáticos depois de concluídos alguns níveis. Não há propriamente um enredo que justifique o nosso papel intervencionista nesta galeria, isso cabe a cada jogador para interpretar à sua maneira.

Os “puzzles” estão divididos em três tipos. O primeiro, denominado “The Style”, remete-nos aos quadros mais conhecidos de Mondrian, onde as formas geométricas e as cores primárias são o foco dos desafios. Inicialmente o objetivo prende-se com colocar as linhas corretas numa tela em branco, formando o espaço e a forma do quadro, seguindo-se a coloração dos mesmos e onde uma interação (leia-se pintura) no canto superior direito terá uma reação igual no sentido oposto. A chave é tentar perceber o padrão e a maneira como as nossas interações se refletem no ecrã. É o tipo de “puzzle” mais desafiante, com um grau de complexidade que o torna muitíssimo exigente para completar à primeira. Acabamos então a refazer de novo e de novo num exercício de tentativa e erro. No segundo tipo de “puzzles”, conhecido como “Boogie Woogie”, temos como missão unir Woogie, um quadrado, e Boogie, outro quadrado que tem de ser preenchido pelo anterior e que se encontram em extremidades opostas do ecrã. Vamos então permitir que um dos quadrados se mova na direção do outro, com um número limitado de tentativas e calculando o melhor trajeto. Acaba por ser o menos interessante dos três tipos de “puzzle”. O terceiro, “New York City”, é o mais cativante e funciona como um jogo de Snake onde se guia um tracejado de uma ponta à outra, apanhando quadrados pelo caminho. Não há aqui grande segredo e tal como nos outros dois, o tempo não compromete a diversão pelo caminho. Não se trata de um jogo longo, e tudo depende da perícia e acima de tudo, da paciência para levar ao fim cada conjunto de desafios.

Please, Touch The Artwork foi lançado originalmente para dispositivos móveis, pelo que a jogabilidade é curta e direta, sem qualquer problema de desempenho na Nintendo Switch onde encaixa como uma luva enquanto experiência portátil, com uma jogabilidade que utiliza o ecrã táctil de forma intuitiva. A palavra de ordem é mesmo a simplicidade, ainda que se encontre um certo toque de emoção. Cada nível faz parte de algo maior e cada tipo de “puzzles” aborda um tema, seja o vínculo e conciliação, a harmonia e pragmatismo de uma cidade, até à dualidade entre a vida urbana e a rural. Acaba também por ser uma obra didática referente a uma parte da História da Arte. O jogo não conta com qualquer tipo de tutorial ou manha para passar os níveis à frente, cabe inteiramente ao jogador analisar e reter tudo de forma intuitiva. Existe um sistema de recomendações que capta algumas informações sobre o estado de espírito e expectativas do jogador e nos entrega um dos três conjuntos de “puzzles” que melhor se adequa, embora o número de varíaveis seja sempre baixo. Como última nota, destaque positivo para a banda sonora à base de jazz e que mergulha o jogador num ambiente de uma galeria de arte.

CONCLUSÃO

CONCLUSÃO
7 10 0 1
Please, Touch The Artwork junta o melhor de dois mundos ao criar uma experiência recheada de "puzzles" interessantes, ao mesmo tempo que dá a conhecer parte do repertório artístico de Piet Mondrian. É acessível para qualquer jogador familiarizado ou não com o género, e ao mesmo tempo perspicaz nas suas múltiplas camadas simbólicas e no formato de poesia visual. Pode ser uma porta de entrada para a exploração de mais experiências semelhantes que abordem outros artistas e obras.
Please, Touch The Artwork junta o melhor de dois mundos ao criar uma experiência recheada de "puzzles" interessantes, ao mesmo tempo que dá a conhecer parte do repertório artístico de Piet Mondrian. É acessível para qualquer jogador familiarizado ou não com o género, e ao mesmo tempo perspicaz nas suas múltiplas camadas simbólicas e no formato de poesia visual. Pode ser uma porta de entrada para a exploração de mais experiências semelhantes que abordem outros artistas e obras.
7/10
Total Score

Pontos positivos

  • Jogabilidade acessível e bem executada
  • Banda sonora de jazz
  • Quebra a barreira entre a arte e o jogador de forma disruptiva
  • Um convite a conhecer a vida e obra de Mondrian
  • Original e pouco convencional

Pontos negativos

  • Maior variedade de "puzzles" seria bem-vinda
  • Falta de homogeneidade na qualidade e dificuldade dos desafios