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Manifold Garden – Análise

Disponível anteriormente na Apple Arcade algures por 2019 e recentemente lançado para a Nintendo Switch, Manifold Garden é um jogo centrado não só em quebra-cabeças mas também em viagens estranhas e únicas por um mundo sem fim. Quiçá não seja tão estranho assim não fosse o criador, William Chyr, licenciado em artes pela universidade de Chicago. Com uma banda sonora e direção artística únicas, Manifold Garden consegue ser em primeira instância uma obra de arte e depois então, um videojogo.

Assim sendo, compreende-se que não haja um enredo propriamente dito. Em filosofia é costume discutir que as obras de arte sofrem problemas de interpretação em dois polos: isolacionismo e contextualização. Não vou gastar um parágrafo nessa aventura, mas deixo assente que em Manifold Garden tudo está à mercê da nossa imaginação. Se realmente existe um porquê para tudo o que acontece, certamente estará na mente do senhor Chyr, pois nada naquele mundo artificial revela uma intenção de desenvolver um enredo ou uma linha narrativa.

Mas ainda assim, Manifold Garden é um videojogo e isso exige que se estabeleçam algumas regras. O início da aventura começa com uma série de quebra-cabeças cuja função é explicar como decorrem as cerca de seis horas de jogo e no fim de cada desafio, a mecânica principal fica esclarecida: utilizar a gravidade do mundo, alterar a nossa perspetiva e colocar cubos na cor correta. É estupidamente simples e divertido, mas também desonesto na sua dificuldade. Tudo é feito em torno desta mecânica e progressivamente, surgem novas ideias para apimentar a viagem. Chega a um ponto que é necessário pensar três, quatro ou até cinco passos à frente para executar e avançar até à próxima etapa, muito ao estilo do apreciadíssimo Portal. A dificuldade está lá, mas existe pouco sentimento tão recompensador como este.

Mas por muito interessantes ou desafiantes que sejam os quebra-cabeças, a verdadeira experiência de Manifold Garden encontra-se na direção artística e na banda sonora. Poucos são os jogos que atingem um patamar quase etéreo na sua execução, mas o mundo idealizado por William Chyr é longo, vasto e repleto de estruturas inicialmente muito cinzentas e minimalistas que se vão tornando mais coloridas e complexas. Tudo é grande e ambicioso neste jogo; tudo é deslumbrante mas ainda assim, consegue ser estranhamente calmo. A banda sonora é um complemento excelente e a sua composição merece ser apreciada, mesmo fora do jogo.

Contudo, um dos momentos mais impressionantes foi cair de uma plataforma acidentalmente. Ao contrário do esperado ecrã de “Game Over”, a descida é contínua até se cair em terra firme…várias vezes no mesmo sítio de onde saltei. A descida continuava e continuava, um ciclo vicioso sem fim em que vi inúmeras vezes o exterior da estrutura onde estava confinado. Muito frequentemente a solução para vários desafios passa por mudar a forma como se olha para a questão.

Ainda assim, por toda a liberdade encontrada tanto a nível de mecânicas como a nível de interpretação, é de salientar que existe uma falha óbvia na falta de um botão para saltar. São vários os desafios que se tornam desnecessariamente difíceis só porque a nossa personagem é incapaz de contornar a gravidade com o seu próprio corpo. Algo que também é transversal ao género, e talvez algo mais subjetivo, é o nível de dificuldade. Outros tantos quebra-cabeças incitam a famosa reação “é isto?” na sua conclusão. Apesar da experiência geral no seu todo ser agradável, com a vantagem adicional de se poder jogar em qualquer lado, Manifold Garden não aproveita outras funcionalidades da consola, sendo tudo muito simplista.

CONCLUSÃO

CONCLUSÃO
7 10 0 1
Mais experiência do que jogo, Manifold Garden deslumbra pela suas componentes artísticas. Aqui a jogabilidade apresenta-se apenas como um complemento interativo, na mesma onda de jogos como Journey, apesar da execução ser muito inspirada em Portal. A banda sonora, por sua vez, é indispensável e tem de ser ouvida para a mestria ganhar vida. Trata-se, no entanto, de uma conversão muito simples, com alguns "puzzles" irritantes, um tempo curtíssimo de vida e nenhuma razão para voltar a jogar, o que coloca o jogo uns pontos abaixo do esperado.
Mais experiência do que jogo, Manifold Garden deslumbra pela suas componentes artísticas. Aqui a jogabilidade apresenta-se apenas como um complemento interativo, na mesma onda de jogos como Journey, apesar da execução ser muito inspirada em Portal. A banda sonora, por sua vez, é indispensável e tem de ser ouvida para a mestria ganhar vida. Trata-se, no entanto, de uma conversão muito simples, com alguns "puzzles" irritantes, um tempo curtíssimo de vida e nenhuma razão para voltar a jogar, o que coloca o jogo uns pontos abaixo do esperado.
7/10
Total Score

Pontos positivos

  • Banda sonora
  • Direção artística
  • Sentimento de recompensa

Pontos negativos

  • Tempo de jogo muito curto
  • Nenhuma razão para voltar a jogar
  • Alguns quebra-cabeças muito irritantes

Ulisses Domingues

Analisar um videojogo é como uma experiência gastronómica: pode correr muito bem, muito mal ou não correr de todo. Pelo menos é o que este membro da equipa acredita. No entanto, nunca deixará que a sua fome altere os critérios de análise. Pelo menos não muito.