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Night Call – Análise

Querem apostar que a Monkey Moon foi buscar o título à música Nightcall? Nem há dúvida, Drive é um excelente filme e a temática de Night Call anda lá perto. Se bem que me lembre mais o filme Chicago Cab pela sua melancolia. Em Night Call somos um taxista que trabalha na noite parisiense para se sustentar, ou seja: recolher passageiros e deixá-los nos seus destinos. E isto chegaria para me satisfazer, mas acharam por bem enfiar um pseudo-enredo “noir”, onde temos de descobrir a identidade do “serial killer” que nos atacou. E esta é a pior parte do jogo.

Night Call tem uma campanha com três níveis de dificuldade. O mais fácil deixa-nos assistir ao desenrolar da história sem o stress da gestão de recursos, onde apenas trabalhamos sem um fim certo. Basta ligar a rádio Amália, meter o terço ao pescoço e ir trabalhar. Jogar desta forma tem as suas vantagens e eu até prefiro a experiência no modo livre, que permite desfrutar mais da chamada “slice of life” e interação com as pessoas, ouvir como correram os seus dias, os seus desabafos e intervir quando se julga indicado. Há pessoas que não gostam de falar com o motorista, mas eu até gosto de ocupar os minutos da corrida a trocar uns dedos de conversa com o senhor ou senhora. Aqui é igual: ou ficam calados ou podem perguntar para os passageiros desenvolverem a conversa. Na campanha descobrem-se pistas sobre o “serial killer” ou pode-se saber o que aflige os passageiros. E há uma resma deles, dos mais banais aos mais excêntricos. Nas minhas horas de jogo dei boleia a um casal de mulheres que queria engravidar, a um estudante negro que tinha sido assaltado, a uma escritora em busca da inspiração noturna, a um sem-abrigo, a um gato e a um espírito – sim, leram bem. E isto é fantástico, mas como se processa?

Cada noite começa com a visualização do mapa de Paris, onde se encontram ícones de pessoas à procura de um táxi, pontos de interesse e postos de combustível. Cada viagem consome tempo e gasolina, o jogador escolhe quem quiser transportar, vê as distâncias/preços e decide. Os ícones realçados destacam ações relacionadas com o enredo, quanto ao resto é andar a apanhar pessoas aleatoriamente e esperar que surja alguma pista. Ler o jornal, ouvir o rádio ou falar com as pessoas nas bombas de gasolina também pode puxar pelo enredo. Quando a noite acaba e o dia começa, voltamos ao nosso estúdio caro para reunnir pistas num daqueles quadros brancos, com direito a fios e tudo. Caminha, onde o senhor fuma a contemplar o que raio viu durante a noite. Não fumem na cama, vá lá. Mas o jogo não é divertido, e isto tem que ser dito. Eu preferia que Night Call fosse uma compilação de contos ou mesmo um romance, porque dou por mim interessado na leitura e não na jogabilidade; no ir ao mapa; no ir aos menus; na recolha de pistas e no mistério. Só quero saber se aquelas pessoas estão bem, mas tenho a noção de que isto pode ser pessoal, os fãs de “visual novels” podem ver aqui algo diferente, ainda que não encaixe inteiramente dentro daquele género.

Visualmente o jogo tem uma estética “noir”. Desenrola-se à noite, usa e abusa dos tons escuros, não há muita variedade para além do mapa, de alguns pontos de interesse da cidade ou dentro do carro; as personagens estão bem trabalhadas, o que as torna bem diferentes e individualizadas. Para o jogo que é, servem o seu propósito mas não justificam os soluços que se encontram ao longo da experiência, mesmo que isto não seja o maior problema. O jogo não tem vozes, apenas uma banda sonora que recorre bastante aos sintetizadores para criar um bom ambiente descontraído que respira noite e solidão. A banda sonora é perfeita para acompanhar o desenrolar do enredo e assenta que nem uma luva nas histórias de cada personagem.

CONCLUSÃO

CONCLUSÃO
6 10 0 1
Uma agradável surpresa, embora tardia. A Nintendo Switch é a consola perfeita para este género de jogos, principalmente se jogados no ecrã da consola, mas a ausência de controlos táteis é inexplicável. Os poucos problemas de desempenho não mancham esta experiência, que tem mais potencial literário do que em jogo.
Uma agradável surpresa, embora tardia. A Nintendo Switch é a consola perfeita para este género de jogos, principalmente se jogados no ecrã da consola, mas a ausência de controlos táteis é inexplicável. Os poucos problemas de desempenho não mancham esta experiência, que tem mais potencial literário do que em jogo.
6/10
Total Score

Pontos positivos

  • Amostra da noite parisiense
  • Banda sonora
  • Ambiente

Pontos negativos

  • Alguns soluços durante a transição de ecrãs
  • Enredo principal

André Pereira

Tempo contado, demasiadas ocupações. Para aguentar uma crise de tenra idade, o André joga e escreve sobre jogos. É fã de RPG japoneses e de uma história de puxar à lágrima.