Viewfinder – Análise
Uma das melhores coisas que se pode esperar de um jogo é que nos surpreenda, e Viewfinder faz justamente isso. Obra de estreia do estúdio escocês Sad Owl Studios, Viewfinder viu a luz do dia em 2023 e chegou recentemente à Nintendo Switch pela mão da editora sueca Thunderful Games. Não podemos alterar o passado, mas podemos estar contentes por Viewfinder ter chegado à Switch, mesmo passados mais de dois anos desde o seu lançamento.

Viewfinder é um jogo de resolução de “puzzles” na primeira pessoa. Logo no início da experiência, as palavras da nossa protagonista levam-nos a pensar que estamos num mundo onde aconteceu algo de mau, apesar do aspeto calmo e pacífico do cenário – primeira surpresa, quando parece que vamos saber um pouco mais, o mundo começa a dar erro, como um programa de computador que não está a colaborar. O que é isto, afinal? Uma simulação, estamos a explorar uma realidade simulada que se assemelha aos pisos superiores de edifícios altos e onde, grão a grão, temos de resolver pequenos “puzzles” para atingir e ativar a máquina que nos transporta para o capítulo seguinte. A mecânica base do jogo consiste na colocação de fotografias que encontramos pelo caminho e que temos de sobrepor no cenário, permitindo a criação de uma nova realidade por onde podemos avançar e proceder para o capítulo seguinte.
Viewfinder não é um safári fotográfico. É muito mais estranho, e é assim que deve ser, mas se é preciso fazer comparações, podemos sem dúvida afirmar que tem muito mais de Portal do que de Pokémon Snap. À nossa frente temos um caminho aparentemente bloqueado e por onde não conseguimos avançar. Procuramos por uma fotografia do local, colocamo-la no ponto certo e no ângulo correto, e a realidade é alterada: o conteúdo da fotografia fundiu-se com o mundo real, e já podemos seguir em frente. Viewfinder é isto. Surpreendente, original, bem ritmado, sem exagerar na dificuldade ou no peso do enredo. A qualquer momento é possível voltar atrás (com o botão Y), o que nos permite corrigir os erros assim que os fazemos e não perder demasiado tempo e paciência, o que é muito bem-vindo e favorece uma abordagem livre.

À medida que avançamos, o jogo torna-se mais complexo e temos de ir além da colocação de fotos capazes de abrir corredores ou de improvisar uma ponte. Vai ser preciso combinar fotografias diferentes, fazer cópias, ou alterar a orientação dos cenários para que possamos apanhar objetos. A partir de uma determinada altura, temos de tirar as nossas próprias fotos para podermos alterar a realidade, e para isso temos de o fazer com o ângulo e perspetiva corretos. Em cada local vamos encontrar novos elementos sobre o enredo, nomeadamente gravações áudio que nos dão mais e mais pistas sobre as origens desta experiência… e que mais uma vez nos surpreendem e levam-nos a perceber que estamos a participar em algo muito importante, embora não seja essencial fincar os dentes no enredo – Viewfinder destaca-se muito mais pela jogabilidade do que pela história.
Quanto ao mundo do jogo propriamente dito, também traz as suas surpresas. Se no início parece que estamos a percorrer os terraços de edifícios de apartamentos de luxo, não demora muito até as fotografias que colocamos nos meterem a atravessar um cenário de um jogo 8-bit (embora adaptado à natureza de Viewfinder), um desenho infantil, ou um bonito jardim. Esta versão de Viewfinder foi feita para a Nintendo Switch original, pelo que não estamos perante um colosso do ponto de vista gráfico e sonoro, mas a direção artística, o uso das cores, e o desenho dos níveis, que rapidamente se tornam invulgares, fazem um belíssimo trabalho a ambientar o jogador e a manter-nos concentrados na jogabilidade. Quando jogado na Switch 2, não se observam diferenças significativas em relação à Switch original. Do ponto de vista da acessibilidade merece uma menção positiva por incluir texto em português do Brasil.
A experiência não é muito longa e pode terminar-se em cerca de quatro horas, já contando com uma certa margem de improvisação e de tentativa e erro. Por outro lado, não há grandes motivos para regressar aos capítulos e níveis já concluídos, o que acaba por fazer da longevidade um dos pontos fracos de Viewfinder, ainda que tenha de ser vista de uma forma relativa: é um jogo “indie”, e trata-se da obra de estreia do estúdio de produção. Os “puzzles” opcionais são mais exigentes, mas talvez pudessem ter sido concretizados de outra forma para favorecer a longevidade. A dificuldade encontra-se muito bem implementada, e o jogo trata-nos de forma justa no que diz respeito à forma como se torna mais complexo, embora em alguns casos seja um pouco frustrante quando a última foto que colocámos está ligeiramente desalinhada com o nosso percurso e temos de voltar atrás. Nada de muito grave, já que o jogo é bastante flexível, e a forma criativa como que nos convida a solucionar os “puzzles” pode levar a situações surpreendentes (cá está outra vez).
CONCLUSÃO
CONCLUSÃOPontos positivos
- Mecânica muito original
- Dificuldade bem implementada
- Cenários invulgares e inesperados
- Flexível e estimula uma abordagem criativa
Pontos negativos
- Longevidade algo curta
- Um pouco frustrante em algumas resoluções

Apreciador de jogos de outras épocas, não diz que não a uma boa obra dos nossos tempos. Diz-se que é por ele que passam os textos antes da publicação, o que significa que é uma espécie de boss final da escrita para os outros membros da equipa.

