Marvel Cosmic Invasion – Análise
Marvel Cosmic Invasion é o jogo mais recente da Tribute Games, e a prova de que a produtora não perdeu o toque depois do sucesso de Teenage Mutant Ninja Turtles: Shredder’s Revenge. Três anos depois de pôr as Tartarugas Ninja de novo em grande, a equipa canadiana volta à carga com um “beat’em up” de inspiração clássica, desta vez baseado no lado cósmico da Marvel. A estética em estilo “pixel art” volta a ser o cartão de visita, a banda sonora de Tee Lopes dá o ritmo certo às sessões de pancadaria intergaláctica, e o elenco de super-heróis e vilões, onde cabem nomes famosos e algumas caras menos conhecidas, dá-lhe um sabor de obra que vem diretamente de uma banca de BD.

A campanha coloca-nos no papel de uma equipa improvisada de heróis, uma mistura de rostos conhecidos e algumas surpresas, reunidos à pressa por Nick Fury após uma anomalia cósmica que abriu portais por todo o lado. O enredo cumpre o que se espera de um produto Marvel, com diálogos rápidos, piadas a ritmar as cenas mais pesadas, e muitos pretextos para juntar personagens que normalmente não se cruzariam. Não é uma história que fique na memória, e por vezes cai em lugares-comuns sem grande nuances, mas funciona bem como pano de fundo para a ação, com alguns momentos mais inspirados quando o enredo abranda e dá espaço a pequenas interações entre membros da equipa.
Do lado da jogabilidade, Marvel Cosmic Invasion segue a fórmula de “beat’ em up” cooperativo de progressão horizontal. Escolhemos uma personagem, cada uma com as suas habilidades próprias, e entramos em missões fechadas ao longo de vários planetas e estações espaciais. Há heróis mais voltados para o combate corpo a corpo, outros para o controlo de área, e outros para atingir os inimigos à distância, e o jogo incentiva-nos a combinar funções numa equipa equilibrada. As habilidades especiais têm tempos de carregamento suficientemente curtos para serem usadas com frequência, o que dá ao combate um ritmo bastante dinâmico, e a forma como os inimigos reagem aos nossos golpes é bem positiva. A estrutura das missões é onde o jogo é mais previsível: avançar ao longo de corredores e arenas, limpar vagas de inimigos, ativar objetos, e enfrentar um “mini-boss” ou “boss” no final. Funciona, mas ao fim de algumas horas torna-se repetitivo, sobretudo quando o jogo insiste em reaproveitar espaços com variações mínimas.

A progressão baseia-se numa combinação do nível da personagem e do seu equipamento. Cada missão traz pontos de experiência e materiais que servem para desbloquear novas habilidades, melhorar talentos passivos, e equipar peças que melhoram o ataque, a defesa, ou efeitos específicos (mais danos elementais, redução do tempo para recarregar ataques, etc.). Não é um sistema particularmente profundo, mas chega para convencer quem gosta de experimentar sinergias entre as capacidades. O lado menos positivo é que o jogo depende bastante da reciclagem de conteúdo através de dificuldades superiores e modificadores, o que incentiva a repetir as mesmas missões para obtermos equipamento um pouco melhor. A componente cooperativa local e online é mais convincente. As habilidades dos heróis foram feitas a pensar na complementaridade e quando há coordenação na equipa, onde um agrupa inimigos, outro controla o campo, e outro provoca danos enormes, o ecrã enche-se de efeitos, mas a leitura do que se está a passar mantém-se razoavelmente clara. Num ecrã de televisão, a experiência é divertida e caótica q.b., embora a interface a quatro jogadores perca alguma legibilidade em ecrãs mais pequenos. Quando jogado online, o emparelhamento automático funciona, mas nem sempre de forma estável, e em sequências mais carregadas notam-se alguns atrasos. Não prejudica a experiência, mas é um ponto a ter em conta num jogo que vive tanto da cooperação.
Marvel Cosmic Invasion sabe aproveitar muito bem as capacidades da Nintendo Switch 2, tanto no que diz respeito ao ecrã da consola como no desempenho. A direção artística em “pixel art” é claramente um dos grandes destaques, e as personagens exibem uma personalidade muito viva, com animações muito bem trabalhadas. Os cenários estão cheios de pormenores e referências para quem conhece o universo Marvel, sem nunca parecerem vazios ou preguiçosos. Há constantemente efeitos a preencher o ecrã, desde explosões a poderes cósmicos, mas o uso da cor é suficientemente cuidado para que tudo se mantenha legível e com aquele ar assumidamente noventista que remete diretamente para os tempos dos jogos “arcade”. Do lado do desempenho, num ecrã de televisão o jogo exibe uma resolução dinâmica que se aproxima dos 4K, e tenta atingir uma fluidez de 60 fotogramas por segundo que se mantém firme durante a maior parte do tempo; no ecrã da consola, a resolução desce para valores perto dos 1080p, com o mesmo objetivo de 60 fps. Há momentos em que a fluidez cai um pouco, sobretudo em espaços grandes com muitos inimigos e elementos em simultâneo, mas essas quebras são pontuais e não prejudicam a experiência, permitindo que o estilo visual e a ação rápida se destaquem quase sempre sem grandes compromissos.
O desenho das missões e dos ambientes é competente, mas raramente nos surpreende. Os planetas exibem variações dos cenários e das cores – desertos vermelhos, cidades futuristas, plataformas industriais no vazio – e há um ou outro cenário que se destaca visualmente, mas poucos espaços ficam na memória. Os “bosses” seguem um padrão semelhante: alguns combates são mais elaborados, com fases distintas e mecânicas divertidas, outros limitam-se a ser versões ampliadas de inimigos normais com mais vida. O jogo tenta compensar isto com eventos sazonais e atualizações de conteúdo mas mesmo com essas adições, a estrutura de base mantém-se muito parecida ao fim de dezenas de horas. Em termos de monetização, Marvel Cosmic Invasion opta por um modelo misto. Há um passe de temporada baseado em elementos cosméticos com fatos alternativos, “emotes”, efeitos visuais e uma loja com artigos visuais que, na prática, não afetam a jogabilidade. O jogo evita o chamado ‘pagar para ganhar’, o que é um ponto a favor, mas a interface faz questão de lembrar regularmente que existem “skins” novas disponíveis, o que pode cansar quem só quer entrar, jogar umas missões e sair sem pensar em passes. É algo relativamente discreto ao fim de algum tempo, mas que podia ser menos insistente.
CONCLUSÃO
CONCLUSÃOPontos positivos
- Combate dinâmico e bem implementado, e personagens bem diferenciadas
- Componente cooperativa divertida, especialmente em equipa coordenada
- Ambiente visual de qualidade e com abundância de cores
Pontos negativos
- Estrutura de missões repetitiva ao fim de algumas horas
- Enredo pouco marcante e muito dependente de lugares-comuns da Marvel

Calorias, nutrientes e Nintendo. Três palavras que definem o maior fã de F-Zero cá do sítio. Adepto de hábitos alimentares saudáveis, quando não anda atrás de uma balança, costuma estar ocupado com as notícias mais prementes e as análises mais exigentes.

