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Yakuza Kiwami 2 – Análise

Depois de Yakuza 0 ter marcado a estreia da série na Nintendo Switch 2 e de Yakuza Kiwami ter dado continuidade aos eventos da série, chega a vez de olhar para Yakuza Kiwami 2, que chegou igualmente à consola da Nintendo. Este “remake” completo do Yakuza 2 original (lançado na PlayStation 2 em 2006) retoma o enredo imediatamente após os acontecimentos do primeiro Kiwami. Kazuma Kiryu, agora a tentar levar uma vida pacata depois dos dramas anteriores, vê-se novamente arrastado para o submundo do crime para impedir uma guerra de grandes proporções entre o seu antigo clã em Kamurocho (Tojo Clan) e a poderosa aliança rival de Osaka (Omi Alliance). Logo de início, nota-se uma mudança de tom e ambiente em relação ao jogo anterior: se Yakuza Kiwami se focava num conflito mais íntimo e pessoal, Kiwami 2 alarga o âmbito e aposta numa história de guerra aberta entre famílias da yakuza, com tensão constante e um alcance narrativo mais amplo. Há também espaço para outras emoções, incluindo pequenos momentos de romance e vulnerabilidade, o que dá à sequela um sabor próprio dentro da série.

No centro deste novo conflito surge uma figura que rapidamente se impõe: Ryuji Goda, o “Dragão de Kansai”. Carismático e impiedoso, Ryuji é o filho do líder da Omi Alliance e está determinado a provocar Kiryu, o lendário “Dragão de Dojima”, num confronto decisivo pelo domínio do submundo. Como antagonista, Ryuji destaca-se pela sua presença marcante e motivações que ultrapassam o típico vilão unidimensional. É uma espécide de reflexo sombrio de Kiryu, igual em determinação e orgulho, o que transforma o duelo entre ambos numa rivalidade quase mítica. Ao lado de Kiryu encontramos também novas aliadas, como a destemida detetive Kaoru Sayama, conhecida como “Caçadora de Yakuzas”, que estabelece uma parceria improvável com o protagonista. A relação entre ambos introduz momentos de cumplicidade, um choque cultural entre Tóquio e Osaka, e um lado mais humano de Kiryu, equilibrando o drama policial com humor e empatia. Nesta aventura, o jogador percorre as ruas conhecidas de Kamurocho (inspiradas no bairro de Kabukicho, em Tóquio) e explora Sotenbori, a vibrante recriação fictícia de Osaka. As luzes de néon junto ao rio e a vida noturna animada de Sotenbori contrastam com a energia caótica de Kamurocho, oferecendo dois retratos distintos do Japão urbano.

No que diz respeito à jogabilidade, Kiwami 2 representa um salto tecnológico notável ao ser desenvolvido no Dragon Engine, o mesmo motor estreado em Yakuza 6, substituindo o motor mais antigo utilizado em Yakuza 0 e Kiwami 1. O resultado é um combate mais fluido, cenários com mais pormenores e transições praticamente imediatas: quando um grupo de inimigos aborda Kiryu na rua, a luta começa ali mesmo, sem ecrãs de carregamento. Desta vez, Kiryu não pode alternar entre vários estilos de luta, característica marcante dos jogos anteriores. Em vez disso, adota um único estilo unificado e versátil, que o jogador pode aprimorar por meio de um sistema de progressão renovado. Ao completar missões e atividades, ganham-se diferentes tipos de pontos de experiência (força, agilidade, espírito, entre outros), investidos numa grelha de habilidades que reforça atributos, desbloqueia golpes especiais e expande o repertório de movimentos. Esta abordagem mais próxima de um RPG dá-nos liberdade na forma como desenvolvemos Kiryu, permitindo moldar o protagonista ao estilo de combate preferido.

Mesmo sem os estilos clássicos Brawler Beast ou Rush, o combate de Yakuza Kiwami 2 continua a ser impactante e com bastante personalidade. O motor Dragon Engine dá um novo peso às lutas e qualquer objeto encontrado na rua transforma-se numa arma improvisada que ajuda a tornar imprevisível cada confronto. As Heat Actions continuam a ser o centro da ação e oferecem momentos cinematográficos que mantêm o ADN exagerado da série. Os combates contra “bosses” exigem atenção redobrada, e isso sente-se sobretudo nos duelos com Ryuji Goda que aproveitam bem o sistema de combate e obrigam o jogador a pensar na melhor altura para curar ou recorrer a armas alternativas. A dificuldade mantém-se acessível, mas alguns combates prolongados podem surpreender quem entrar de forma mais descontraída. Felizmente existe sempre espaço para ajustar equipamento, usar itens de apoio, ou confiar na barra de Heat para recuperar o controlo da situação.

A campanha de Yakuza Kiwami 2 mantém um ritmo cativante e dura entre vinte e trinta horas, dependendo de quanto o jogador se dedicar ao conteúdo opcional. As ruas de Kamurocho e Sotenbori continuam a ser terreno fértil para as tradicionais sub-histórias, que vão desde situações absurdas até pequenos momentos emotivos que revelam um lado mais humano de Kiryu. Este equilíbrio entre drama intenso e humor desconcertante continua a ser um dos grandes trunfos da série, e Kiwami 2 honra essa tradição com histórias secundárias memoráveis. Além das missões paralelas existe um conjunto de atividades e minijogos que reforçam a variedade do jogo. Karaoke, dardos, bilhar, mahjong, casinos, e “arcades” da SEGA regressam em força, e há ainda dois modos mais elaborados que se destacam. O Cabaret Club Grand Prix coloca Kiryu a gerir o Four Shine em Sotenbori, num registo muito próximo do visto em Yakuza 0. O processo de recrutar e formar as anfitriãs, atender clientes, e competir contra clubes rivais é surpreendentemente envolvente, e facilmente nos leva várias horas. O Clan Creator também marca presença, seguindo o modelo introduzido em Yakuza 6 e apresenta combates simples de estratégia em que Majima lidera as suas tropas contra ondas de inimigos. É uma mudança de ritmo divertida que acrescenta variedade ao conjunto. Para completar a experiência, Yakuza Kiwami 2 inclui ainda a Majima Saga que funciona como um capítulo extra dedicado ao icónico Goro Majima. É curto, mas traz um contexto adicional e serve quase como um pequeno epílogo aos acontecimentos de Kiwami, sendo um complemento interessante para quem aprecia a personagem.

A adaptação de Yakuza Kiwami 2 à Nintendo Switch 2 acompanha de forma competente a ambição do jogo, embora apresente alguns compromissos compreensíveis. O Dragon Engine continua exigente, e isso vê-se logo nos 30 fotogramas por segundo que o jogo exibe. Pode ser uma desilusão para quem jogou Kiwami a 60 fps na mesma consola, mas a verdade é que a limitação já existia mesmo nas consolas onde o jogo nasceu. A boa notícia é a estabilidade, que se mantém praticamente inalterada ao longo de toda a experiência, mesmo nos combates mais caóticos não se notam quebras relevantes. Os controlos continuam a responder muito bem, e a ação mantém-se fluida o suficiente para que a fluidez mais baixa se torne num pormenor menos visível com o passar das horas.

A imagem apresenta-se nítida, tanto num ecrã de televisão como no ecrã da consola, onde a resolução dinâmica e as técnicas de reconstrução deixam Kamurocho e Sotenbori com uma ótima definição e cores vivas. Não existe aquele aspeto turvo associado a conversões da Nintendo Switch original, e os tempos de carregamento quase instantâneos ajudam a dar uma sensação moderna à experiência. Mudar de espaço ou recomeçar uma missão é algo que acontece em segundos, e isso contribui de forma muito positiva para o ritmo do jogo. Assim, do ponto de vista visual Yakuza Kiwami 2 mantém-se fiel ao que vimos nas outras plataformas. Os modelos das personagens continuam expressivos, tal como as ruas que continuam densas e vivas, ainda que algumas texturas e certos efeitos de luz revelem a idade do projeto. Ao contrário do tratamento dado a Yakuza 0 Director’s Cut, não há melhorias gráficas adicionais além do que o hardware permite mas também não há cortes ou perdas de conteúdo. Tudo o que caracterizava o jogo original está presente, e a estabilidade geral confirma um trabalho de conversão muito competente. O áudio mantém-se no japonês original com legendas em várias línguas, incluindo português do Brasil, tradução que continua competente e ajustada ao tom do jogo. Falta o desejado PT-PT, mas a inclusão do português brasileiro já torna o enredo mais acessível a um público alargado.

Convém recordar que Yakuza Kiwami 2 é uma sequela direta dos capítulos anteriores e depende fortemente do que foi construído em Yakuza 0 e Yakuza Kiwami. Grande parte do impacto emotivo vem dessas relações e de eventos anteriores. Para novos jogadores, o ideal é seguir a ordem da série agora disponível na consola. Para os veteranos, esta sequela oferece exatamente o que a série promete, com drama intenso, personagens marcantes, e espaço para as excentricidades típicas das sub-histórias.

CONCLUSÃO

CONCLUSÃO
9 10 0 1
Após tantos anos, Yakuza Kiwami 2 mantém-se tão envolvente como sempre com uma história forte, um antagonista memorável, e um mundo cheio de vida. Os compromissos técnicos não anulam a qualidade geral do conjunto, e a possibilidade de o vivenciar como experiência portátil dá-lhe nova longevidade. Kamurocho e Sotenbori continuam a ter aquele magnetismo único, e a versão Nintendo Switch 2 preserva-o com competência. Yakuza Kiwami 2 afirma-se assim como uma adição valiosa ao catálogo da consola, e uma experiência que continua a honrar o legado da série
Após tantos anos, Yakuza Kiwami 2 mantém-se tão envolvente como sempre com uma história forte, um antagonista memorável, e um mundo cheio de vida. Os compromissos técnicos não anulam a qualidade geral do conjunto, e a possibilidade de o vivenciar como experiência portátil dá-lhe nova longevidade. Kamurocho e Sotenbori continuam a ter aquele magnetismo único, e a versão Nintendo Switch 2 preserva-o com competência. Yakuza Kiwami 2 afirma-se assim como uma adição valiosa ao catálogo da consola, e uma experiência que continua a honrar o legado da série
9/10
Total Score

Pontos positivos

  • Enredo intenso, repleto de drama e com um antagonista memorável
  • Ambiente renovado ao alternar entre Kamurocho e Sotenbori
  • Dragon Engine traz um combate divertido e visceral, com animações espetaculares
  • Muitas missões secundárias e minijogos viciantes

Pontos negativos

  • Escala de conteúdo ainda abaixo do épico Yakuza 0
  • Limitado a 30 fps, aquém da fluidez dos antecessores

Nuno Nêveda

Calorias, nutrientes e Nintendo. Três palavras que definem o maior fã de F-Zero cá do sítio. Adepto de hábitos alimentares saudáveis, quando não anda atrás de uma balança, costuma estar ocupado com as notícias mais prementes e as análises mais exigentes.

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