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Becastled – Análise

Há jogos que tentam ser muito ambiciosos dentro de um único género. Encontram-se bastantes exemplos nos jogos de estratégia e gestão, como as séries Anno e Tropico. Nos “tower defense” destacam-se também obras como Plants Vs. Zombies e a série Orcs Must Die. Becastled, do estúdio ucraniano Mana Potion Studios, tenta juntar as fórmulas daqueles géneros e coloca no jogador a responsabilidade de construir e gerir uma cidade e tratar das necessidades dos seus habitantes enquanto a defendemos de ataques noturnos de forças hostis. Por outras palavras: estratégia em tempo real, gestão, e “tower defense” num só jogo.

Becastled não se apresenta como um monstro de conteúdo. Não há aqui um enredo ambicioso, não estão representadas figuras históricas nem de qualquer obra de fantasia. O jogador representa o Reino do Sol enquanto as forças hostis representam a Lua. Se do ponto de vista da criatividade não é um espanto, isto é importante porque dá o mote para a forma como a jogabilidade se encontra estruturada. A experiência divide-se em duas vertentes: uma de construção e gestão, que decorre durante o dia, onde vamos plantar campos, construir minas e erguer cidades, com casas, muralhas, tabernas, casernas, etc. A vertente “tower defense” entra em jogo durante a noite, quando a nossa cidade é atacada pela facção da Lua. Quando isto acontece, temos de destacar os nossos soldados para defender a cidade, e é aqui que o investimento em muralhas e na formação de combatentes é posto à prova. Terminada a noite, vem mais um dia de construção e gestão.

Os recursos materiais são essenciais, o que significa que temos de ter o olho nos “stocks” de alimentação, madeira, pedra e ouro (ou melhor, pedra solar, como aqui se chama) para manter os habitantes satisfeitos e a cidade funcional, até começarmos uma expansão mais ambiciosa. Construções requerem trabalhadores, que podemos destacar individualmente para cada trabalho. Isto significa que se nos tornarmos demasiado ambiciosos, a falta de mão-de-obra vai arrefecer os desígnios mais expansionistas – não se podem construir estruturas se não houver trabalhadores para as erguer. Quando damos os primeiros passos esta vertente é algo frustrante, já que sofremos frequentemente de falta de recursos, o que faz com que demore algum tempo até entrarmos numa dinâmica com mais ímpeto. Por outro lado, os primeiros ataques noturnos são acessíveis e se seguirmos minimamente as recomendações dos tutoriais, não nos provocam problemas catastróficos. A cada cinco noites uma lua de sangue traz uma vaga de inimigos muito maior e mais dura, e estes são uma ameaça mais grave, só é recomendado atacar as torres inimigas (para pôr fim aos ataques noturnos) quando temos confiança nas nossas capacidades. Os combates têm pouco que saber, trata-se sobretudo de direcionar as nossas unidades para os pontos que os inimigos estão a atacar, o que nem sempre corre muito bem já que por vezes os nossos soldados demoram tempo a chegar e vão por caminhos inesperados. Daí também a importância de investir muitos recursos na formação de soldados.

Becastled tem os princípios no lugar certo. O que acontece é que a experiência acaba por ser menos envolvente e divertida do que se espera. Não se trata de um problema das mecânicas nem das opções, que são mais que muitas. O jogo também não falha nos pontos-chave dos géneros em que se baseia, incluindo uma exploração de tecnologias com o habitual formato de árvore. A ação torna-se repetitiva rapidamente, o que é prejudicial para um jogo simples. A simplicidade também implica uma componente audiovisual menos elaborada. Como consequência, os elementos do jogo – construções, unidades, etc. – acabam por ter um aspeto pouco variado, que depressa se torna monótono devido a uma certa falta de personalidade. A banda sonora é bastante cinzenta e pouco cativante, enquanto os efeitos sonoros saem-se um pouco melhor, ainda que sejam também eles bastante simplistas.

Quando jogado num ecrã da Switch/Switch 2, Becastled por vezes sofre de alguns problemas de desempenho em que a interação se torna algo complicada quando há muitos objetos no ecrã. Durante bastante tempo, o jogo também sofreu de bloqueios que o obrigavam a reiniciar, experiência muito negativa que felizmente foi tratada com uma atualização lançada poucos dias antes da publicação deste texto. Os controlos seguem o esquema habitual destes jogos, mas é necessário desenvolver uma certa habituação para selecionar unidades. Quanto à acessibilidade, o texto encontra-se devidamente formatado para o ecrã da Switch/Switch 2, mas algumas caixas de texto obrigam-nos a rodar o mapa para as podermos ler sem ter de inclinar a cabeça. É possível jogar com os textos traduzidos para português do Brasil, embora algumas escolhas de vocabulário pareçam pouco naturais e deixem no ar a impressão que se trata de uma tradução automática sem verificação humana.

CONCLUSÃO

CONCLUSÃO
6 10 0 1
Becastled é um jogo simples que junta elementos de estratégia em tempo real, gestão, e “tower defense”, e faz uma série de coisas bem no que diz respeito a uma implementação positiva das mecânicas de construção, gestão e combate. Sai-se menos bem a manter a atenção do jogador, e por vezes sofre de falta de personalidade. A experiência foi também prejudicada pelos bloqueios demasiado frequentes, entretanto resolvidos, mas mesmo assim Becastled acaba por ficar aquém do seu potencial.
Becastled é um jogo simples que junta elementos de estratégia em tempo real, gestão, e “tower defense”, e faz uma série de coisas bem no que diz respeito a uma implementação positiva das mecânicas de construção, gestão e combate. Sai-se menos bem a manter a atenção do jogador, e por vezes sofre de falta de personalidade. A experiência foi também prejudicada pelos bloqueios demasiado frequentes, entretanto resolvidos, mas mesmo assim Becastled acaba por ficar aquém do seu potencial.
6/10
Total Score

Pontos positivos

  • Acessível e fácil de compreender
  • Experiência rápida, mesmo quando perdemos

Pontos negativos

  • Falta de personalidade
  • Torna-se repetitivo depressa de mais

João Dias

Apreciador de jogos de outras épocas, não diz que não a uma boa obra dos nossos tempos. Diz-se que é por ele que passam os textos antes da publicação, o que significa que é uma espécie de boss final da escrita para os outros membros da equipa.

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