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AI: THE SOMNIUM FILES – nirvanA Initiative – Análise

Quem conhece as produções de Kotaro Uchikoshi sabe que as suas sequelas tratam de expandir a premissa do antecessor, enquanto introduzem novos temas que alteram o enquadramento do enredo de forma fundamental. AI: THE SOMNIUM FILES – nirvanA Initiative encaixa-se perfeitamente nestes moldes, mas acaba por sofrer dos mesmos problemas observados em jogos colocados na mesma posição. O jogador encarna Kuruto Ryuki, um detetive encarregado de resolver o mistério conhecido como “Half Body Killings”, uma série de homicídios que deixam as suas vítimas apenas com uma metade vertical dos seus corpos. Tal como no primeiro jogo, Ryuki é acompanhado de uma parceira virtual alojada no seu olho esquerdo chamada Tama que é capaz de comunicar de forma independente com Ryuki, e que é essencial para a investigação de locais do crime graças a capacidades como visão raios-X, visão térmica, e um arquivo em tempo real de todos os factos e interações relativas a cada caso.

O tempo de jogo é dividido em duas partes distintas, e a primeira diz respeito à investigação de cada crime, recolha de provas e informação e/ou testemunhos de personagens relacionadas com o evento. Encontram-se alguns momentos que decorrem exclusivamente sob a forma de “quick time events” muito mal executados, com uma duração absurda e que nada trazem à experiência. A sua inclusão não tem explicação, e constituem os piores momentos do jogo. Estas tarefas são habitualmente precedidas de um “Somnium”, um espaço metafísico protagonizado por Tama onde entramos no subconsciente de uma personagem. Este espaço normalmente é representado por elementos surrealistas e rege-se pelas suas próprias regras. Num limite de seis minutos, cabe ao jogador identificar o fio condutor para os acontecimentos crípticos ilustrados em cada “Somnium” e resolver cada “puzzle” que serve como obstáculo em busca da verdade. Sem exceções, cada “Somnium” é único na sua lógica e apresentação, e apesar de alguns apresentarem um desafio considerável, são sempre suficientemente intuitivos para que nunca se tornem frustrantes. A maioria destas secções tem duas soluções possíveis, pelo que se pode retirar conclusões diferentes de acordo com a forma como cada situação foi abordada, colocando o jogador num novo ramo do enredo consoante as suas decisões. Em alguns casos e devido à falta de alguma informação é preciso saltar para outro ramo do enredo e avançar até podermos voltar atrás e prosseguir o caminho anterior com informação nova. O enredo é estruturado no formato de um fluxograma que pode ser consultado a qualquer momento, o que nos permite explorar novas possibilidades ou revisitar momentos já vivenciados.

Contrariamente ao jogo anterior, nirvanA Initiative é muito ambicioso nos temas que aborda e na forma como os expõe. Alguns momentos do enredo são aqui ilustrados através de vídeos inspirados na estética “vaporware” e que vão do críptico ao aterrador. Embora a aventura seja apresentada como uma história de mistério e crime, o núcleo reside nos seus elementos filosóficos e como estes estão relacionados com eventos aparentemente independentes entre si. Conceitos budistas e jainistas como “nirvana” e “moksha” assumem um lugar central no enredo, e a forma gradual como são revelados no desenrolar da história é magnífica. Por outro lado, esta complexidade que não se encontra no primeiro jogo traz um preço elevado, não só na forma como cada uma das rotas possíveis se relaciona, mas também no seu enquadramento temporal. É um jogo extremamente confuso, e a reviravolta principal da história (a imagem de marca de Uchikoshi) não foi de todo bem implementada. A decisão de tornar nirvanA Initiative o mais independente possível do primeiro jogo é também difícil de compreender, e acaba por reescrever aspetos de várias personagens que já tinham sido desenvolvidas com sucesso no jogo anterior. O humor de cariz sexual continua presente, mas é aqui significativamente mais aborrecido e resulta em piadas repetitivas que surgem de forma desnecessária e rapidamente se tornam cansativas.

Já do ponto de vista audiovisual, estamos perante um jogo muito competente, com modelos de personagens expressivos e bem trabalhados, e algumas melhorias visíveis na forma como foram animados. O desempenho é fluido quer no ecrã da Switch, quer numa televisão, com a exceção de algumas quebras de fluidez em momentos de ação mais exigentes, mas são raros e passam despercebidos. As vocalizações, correspondentes à grande maioria dos diálogos e interações, são de boa qualidade.

CONCLUSÃO

CONCLUSÃO
7 10 0 1
nirvanA Initiative é um jogo com bastantes falhas, e o resultado é uma experiência menos coesa do que se encontra no seu antecessor. Por outro lado, é um jogo mais ambicioso, e concretiza essa ambição no seu final alternativo, que é absolutamente excecional. Seja pela forma como é alcançado ou pelas suas implicações no que toca aos eventos de ambos os jogos, nirvanA Initiative atinge o ponto máximo da série graças aos riscos corridos nesta sequela. Se nada mais, foi uma decisão que deve ser elogiada.
nirvanA Initiative é um jogo com bastantes falhas, e o resultado é uma experiência menos coesa do que se encontra no seu antecessor. Por outro lado, é um jogo mais ambicioso, e concretiza essa ambição no seu final alternativo, que é absolutamente excecional. Seja pela forma como é alcançado ou pelas suas implicações no que toca aos eventos de ambos os jogos, nirvanA Initiative atinge o ponto máximo da série graças aos riscos corridos nesta sequela. Se nada mais, foi uma decisão que deve ser elogiada.
7/10
Total Score

Pontos positivos

  • Enredo muito ambicioso
  • "Puzzles" divertidos
  • Final alternativo fenomenal

Pontos negativos

  • "quick time events" muito fracos
  • Momentos de humor fora do lugar
  • Revelação principal mal implementada

Diogo Caeiro

Insiste diariamente na superioridade da série Metroid Prime. Habitualmente ocupado a salvar o mundo de mais um deus irado, pausando ocasionalmente para redigir a sua próxima crónica.