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Super Mario RPG – Análise

Parece estranho dizer isto hoje, mas houve uma altura em que Mario não fazia tudo. Quando Super Mario RPG foi anunciado para SNES em 1995, uma colaboração entre a Nintendo e a Square, parecia extraordinário: um RPG co-produzido pelas cabeças responsáveis por monstros sagrados como a série Final Fantasy, Secret of Mana e Chrono Trigger, e pela equipa que nos trouxe os jogos de plataformas do universo Super Mario? Super Mario RPG: The Legend of the Seven Stars foi um jogo emblemático da reta final do SNES. Infelizmente não viu a luz do dia na Europa, por motivos vários, e foi preciso esperar até 2008 para que fosse disponibilizado na Virtual Console europeia da Wii.

Passados todos estes anos desde o original de 1996, este “remake” para a Switch faz sentido? Se é verdade que Super Mario RPG não representa uma revolução nem abre as portas para um universo novo, a verdade é que esta nova versão, vinda das mãos habilidosas da ArtePiazza que tem no currículo o desenvolvimento de jogos das séries Dragon Quest e Romancing SaGa, é uma pérola que se adora do início ao fim. Super Mario RPG é um “remake” muito bem feito, que não só veste uma roupagem contemporânea exemplar ao original, como ainda lhe confere uns toques na sua estrutura que o ajudam a ambientar-se à nossa era. Super Mario RPG é então… um RPG no universo Super Mario (supresa). O jogo utiliza uma perspetiva isométrica e incorpora as convenções habituais dos JRPG da década de 1990: uma equipa de protagonistas; combates por turnos; capacidades que se expandem à medida que avançamos; habilidades a solo e em conjunto; muitos locais para visitar… Encontramos também influências de jogos de plataformas – afinal, todos associam Mario a saltos, e isso também vai ser necessário em Super Mario RPG, jogo que não tem medo de fazer experiências.

Não seria um bom RPG sem um enredo interessante, e se este começa com o habitual ‘Peach raptada por Bowser’, o trio vê-se imediatamente desafiado por um problema muito maior, onde um vilão conhecido como Smithy implanta uma espada colossal no castelo de Bowser e atira os nossos protagonistas em direções opostas. Mario inicia então a sua busca pela princesa e à medida que avança, conta com a ajuda de mais personagens que se juntam à equipa: os estreantes Mallow e Geno, bem como o próprio Bowser e Peach, depois de umas reviravoltas cómicas no enredo, que aliás merece um destaque muito positivo por dar uma dimensão divertidíssima às personagens, incluindo a Bowser, e estar cheio de humor do início ao fim – é sempre bom ver jogos que não se levam demasiado a sério, e Super Mario RPG fá-lo com uma perna às costas. Encontramos ainda uma inovação muito bem-vinda no que ao enredo diz respeito sob a forma de sequências cinemáticas que nos mostram os desenvolvimentos-chave de uma forma muito mais dramática que o original e uma realização irrepreensível, ainda que sem vocalizações.

Indo para o mais importante: Super Mario RPG funciona bem? Sim, muitíssimo bem. Não é uma experiência JRPG “hardcore”, é bastante acessível a recém-chegados e pode até ser uma introdução às mecânicas de um JRPG para fãs de jogos de plataformas. Vamos percorrer uma série de espaços com a variedade habitual, que inclui florestas, montanhas e profundezas dos mares, bem como localidades com habitantes simpáticos e menos simpáticos; vamos também combater com monstros que incluem inimigos do universo Mario como Goombas, Shy Guys e Wigglers, e inimigos inteiramente novos; vamos expandir as capacidades dos nossos protagonistas; vamos desbloquear desenvolvimentos no enredo e lidar com personagens um pouco bizarras… o habitual, e muito bem implementado. A navegação está mais simplificada, graças a um mecanismo que nos permite voltar a locais já visitados com um toque no mapa, bem como à salvaguarda automática sempre que entramos num espaço novo. Ao longo da aventura, obtemos sete estrelas e uma vez cumprido este objetivo, vamos então confrontar Smithy numa luta duríssima. Temos também direito a um compêndio de inimigos que já vencemos, em jeito de enciclopédia, e até é possível descobrir os seus pensamentos, no que é mais uma dimensão do enorme sentido de humor que foi conferido a este jogo.

O combate abundante funciona por turnos e permite usar habilidades individuais físicas e mágicas, bem como habilidades de grupo. O elemento mais singular de Super Mario RPG fez obviamente a transição para este “remake”: o toque no botão A quando estamos a um instante de desferir um golpe contra um inimigo, e quando defendemos. Estes toques levam a um ataque e a uma defesa mais eficiente, e ganham aqui dois incentivos: cada vez que realizamos um toque ofensivo ou defensivo com sucesso, formamos uma cadeia que nos permite realizar ataques mais poderosos e defesas mais robustas; e um ataque bem coordenado permite criar uma onda de choque que afeta os outros inimigos no ecrã. Jogadores com reflexos apurados podem sair-se bastante bem nos combates com os “bosses”. Falando dos ditos cujos, os “bosses” são bastante exigentes à medida que o jogo avança, e obrigam-nos a pensar melhor nos ataques que vamos realizar. Sim, o “boss” secreto inspirado na série Final Fantasy continua presente, bem como um bolo de casamento autoconsciente, uma arma viva que desativa algumas das nossas funções, e um diretor de produção industrial com bastante stress em cima.

Claro que Super Mario RPG não pretende ser um desafio impossível, e é bastante bondoso neste aspeto. Se só três personagens da nossa equipa podem combater (e Mario é obrigatoriamente uma delas), quem não participa no combate ganha os mesmos pontos de experiência. Além disso, podemos trocar uma personagem por outra a qualquer momento – se estivermos num combate bicudo onde precisamos das habilidades mágicas de Peach, podemos substituir a força bruta de Bowser pela Princesa sem problema. Outra novidade, muito relevante nos “bosses” mais duros, são os ataques triplos: depois de realizarmos os referidos toques ofensivos e defensivos em número suficiente para o contador no ecrã chegar aos 100%, podemos desferir uma combinação tripla de um poder avassalador. Se os combates com os inimigos comuns são no geral bastante acessíveis, os combates com os “bosses”, sobretudo na reta final do jogo, tornam-se muito mais exigentes. A pensar nos jogadores recém-chegados ou menos experientes, este Super Mario RPG inclui um modo de jogo conhecido como “Breezy Mode”, que torna os combates mais fáceis e permite transportar mais itens além dos limites, sem efeitos no desenrolar do enredo. Esta opção pode ser feita a qualquer momento, pelo que é possível dois jogadores diferentes partilharem a experiência, cada um à sua medida. Uma vez terminado o jogo, é possível voltar a combater com os “bosses”, desta vez com uma dificuldade acrescida, adição absolutamente deliciosa e não só pelos combates mas também pelas idiossincrasias dos inimigos. Apesar disso, nota-se que esta é uma experiência feita sobretudo a pensar nos fãs do universo Mario, e menos em quem procura um RPG de dificuldade punitiva.

Entre tantas palavras sobre as mecânicas de jogabilidade, o mundo audiovisual mais do que merece ser elogiado: o ambiente gráfico foi tratado de forma impecável, e apresenta-se agora de maneira mais suave e fluida em todas as suas vertentes, numa verdadeira festa para os olhos de luz e cor. Já a banda sonora original, composta por Yoko Shimomura, apresenta-se agora num registo orquestral e com os arranjos feitos pela própria compositora – sem esquecer que a qualquer momento podemos optar por jogar com as composições do jogo original. Não sendo um jogo que puxa ao máximo pelas capacidades da Switch, Super Mario RPG mima-nos os olhos e os ouvidos com tanta coisa boa, e executada de forma magistral, fluida, e sem falhas. Não é assim nenhum exagero afirmar que Super Mario RPG para a Switch deve ser tratado como uma fórmula a seguir para qualquer “remake” que pretenda utilizar a estrutura e mecânicas semelhantes ao seu original, ainda que não seja uma experiência revolucionária e não seja capaz por si só de convencer os fãs de RPG puros e duros que não sintam o apelo do universo Mario. Lamenta-se apenas a falta de tradução para português, num jogo que seria facilmente desfrutado pelos mais novos ou numa experiência de pais e filhos.

CONCLUSÃO

CONCLUSÃO
8 10 0 1
Super Mario RPG na Switch é tudo o que se pode esperar do "remake" de um jogo que já de si é uma pérola. Se a roupagem audiovisual contemporânea lhe assenta muitíssimo bem, as mecânicas de jogabilidade do original não só foram mantidas como foram melhoradas, e o resultado é uma experiência que se adora do início ao fim, devidamente acessível a novos jogadores mas sem esquecer os que procuram um desafio adicional. Embora dirigido sobretudo a quem conhece o original e a fãs do universo Nintendo, cumpre estes objetivos na perfeição.
Super Mario RPG na Switch é tudo o que se pode esperar do "remake" de um jogo que já de si é uma pérola. Se a roupagem audiovisual contemporânea lhe assenta muitíssimo bem, as mecânicas de jogabilidade do original não só foram mantidas como foram melhoradas, e o resultado é uma experiência que se adora do início ao fim, devidamente acessível a novos jogadores mas sem esquecer os que procuram um desafio adicional. Embora dirigido sobretudo a quem conhece o original e a fãs do universo Nintendo, cumpre estes objetivos na perfeição.
8/10
Total Score

Pontos positivos

  • Homenagem justíssima ao original
  • Adaptado aos nossos tempos de forma irrepreensível
  • Acessível a todos, mas com incentivos novos

Pontos negativos

  • Falta de tradução para português
  • Menos apelativo a quem não conhece o original

João Dias

Apreciador de jogos de outras épocas, não diz que não a uma boa obra dos nossos tempos. Diz-se que é por ele que passam os textos antes da publicação, o que significa que é uma espécie de boss final da escrita para os outros membros da equipa.