Mr. Run and Jump – Análise

Não faltam na Nintendo Switch jogos de inspiração retro, mas Mr. Run and Jump tem um aspeto em que se diferencia dos outros: não só é um jogo que chegou recentemente às consolas e PC, como também tem uma edição especial feita, nos tempos que correm, para a Atari 2600. Posto isto de parte, esta obra da Graphite Lab e Heavy Horse Games que chega até nós pela (surpresa) Atari é um jogo de plataformas que vai direto ao assunto: temos de chegar ao fim do nível vivos, e praticamente tudo nos pode matar. É assim que os níveis foram desenhados, de forma tortuosa e com uma dificuldade incremental, onde se encontram secções que são verdadeiros labirintos de obstáculos mortais.

Não se trata de uma má execução nem de uma implementação fraca. Os controlos funcionam bem, os movimentos que aprendemos ao longo do jogo não têm dificuldades inerentes, e os desenhos dos níveis não podiam ser melhores para o desafio que o jogo propõe. Mas o problema é mesmo esse: os criadores de Mr. Run and Jump estavam tão determinados em dar-nos um desafio extremamente exigente que acabaram por criar um pequeno instrumento de tortura, onde muito facilmente se perde a calma e até os obstáculos menos difíceis se tornam frustrantes. É certo que nada disto é obrigatório, e o jogo dispõe de opções que permitem ultrapassar os níveis de forma menos arriscada, mas se os pontos de salvaguarda são bem-vindos, a invencibilidade momentânea retira qualquer tipo de desafio durante o período em que está ativa – com um preço, diga-se: não podemos apanhar os objetos que se encontram ao longo de cada nível. Por outras palavras: ou enfrentamos a tortura, ou é um passeio.

É assim por estes motivos que Mr. Run and Jump é um jogo bem feito… para alguns. Quem tiver a capacidade e a paciência para enfrentar todos os níveis numa base de tentativa e erro, tentar terminá-los a todos sem ajuda, apanhar o máximo de objetos possível, e depois ainda ultrapassar o desafio do “Time Trial” para cada nível terminado e onde pode ganhar medalhas pelos seus tempos, tem aqui uma experiência feita à medida. Quem apesar de tudo distingue ‘desafio’ de ‘frustração’ e ‘tortura’ não vai achar tanta piada. Mais do que um jogo de plataformas em estilo de “homenagem retro”, Mr. Run and Jump é um desafio bastante atual para quem quer ver até onde vão os seus limites.

João Dias

Apreciador de jogos de outras épocas, não diz que não a uma boa obra dos nossos tempos. Diz-se que é por ele que passam os textos antes da publicação, o que significa que é uma espécie de boss final da escrita para os outros membros da equipa.