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We Love Katamari Reroll+ Royal Reverie – Análise

Se perguntarmos a alguém sobre boas ideias para um conceito a aplicar num videojogo, enrolar objetos quotidianos numa bola gigantesca provavelmente não seria a primeira coisa que lhe viria à cabeça. E no entanto, o sucesso da série Katamari tem uma palavrinha a dizer sobre isso, como a Namco bem pode contrapor. Dezanove jogos num número igual de anos desde a estreia na PlayStation 2 de Katamari Damacy mostram que existe um público disposto a jogar uma obra onde pegamos numa bola (de nome Katamari, tinha de vir de algum lado) e apanhamos o maior número de objetos possível a pretexto de motivos bastante cómicos. Talvez não seja só por isso: é sobretudo porque a ideia foi muito bem implementada, e funciona muitíssimo bem. Se em 2018 o jogo original teve direito a um “remaster” na Nintendo Switch sob o nome de Katamari Damacy Reroll, é agora a vez de a sua sequela receber o mesmo tratamento: We Love Katamari Reroll+ Royal Reverie dá uma cara lavada ao jogo de 2005 e acrescenta-lhe uma série de elementos adicionais, no que é uma obra deliciosamente divertida e difícil de largar.

Sem surpresas, o enredo não é a componente vital do jogo, mas não é por isso que passa ao lado dos acontecimentos – afinal, é preciso haver um motivo para a ação, e neste caso vamos dar seguimento ao jogo anterior e encarnar uma personagem conhecida como o Príncipe, filho do Rei do Cosmos – o indivíduo “larger than life” muito idiossincrático e responsável pelos eventos do primeiro jogo. O Príncipe é enviado à Terra para formar Katamaris a pessoas que exprimem a sua admiração pelo Rei e que lhe pedem ajuda no seu dia a dia, e é então que vamos abordar uma série de habitantes da Terra e ajudá-los com problemas como limpar o quarto do filho, angariar fundos para salvar os pandas-vermelhos, ou acender uma fogueira a um grupo de campistas. Por “ajudar” entenda-se formar um Katamari com os objetos à disposição, ou não fosse essa a alma da série.

É assim que vamos fazer rolar uma bola, e que com ela vamos apanhar objetos para a tornar cada vez maior e cumprir os requisitos de cada nível. Em alguns casos temos um tamanho-alvo a atingir dentro de um limite de tempo, noutros apenas temos de criar o maior Katamari possível, enquanto noutros temos um objetivo mais concreto, mas todos passam pela mecânica-base de enrolar objetos numa bola. Esta é executada movendo os dois “joysticks” analógicos na mesma direção enquanto procuramos pelos objetos ao longo de cenários como uma escola, uma pista de corridas, um jardim florido, ou até um céu encoberto. No início de cada nível apenas podemos apanhar objetos mais pequenos – ovos, pilhas, folhas de papel, borrachas, etc. – mas à medida que o Katamari cresce, podemos acrescentar objetos cada vez maiores, e que vão desde bicicletas a pessoas, passando por autocarros, pontes, edifícios e até um ou outro monumento conhecido. Em determinados momentos é possível ficar com os movimentos restringidos em locais mais estreitos ou num ponto a que a câmara tem dificuldades de chegar. Se estes momentos não são frequentes ao ponto de prejudicar a experiência, também contribuem para perdas de tempo que nos podem penalizar – e se o Rei do Cosmos é uma entidade de natureza magnânima, vamos ver um lado muito diferente do monarca se falharmos o objetivo, algo que vai acontecer algumas vezes já que em determinados níveis vamos recorrer à tentativa e erro. Em cada nível encontram-se também presentes, que podemos usar como adornos na nossa personagem, bem como os primos do Príncipe, que também podemos escolher para usar em cada nível, em nome da variedade.

A ação decorre em cenários devidamente estilizados e com uma estética simples, mas divertidíssima que encaixa perfeitamente com o conceito e enredo. Não poderia mesmo haver uma melhor direção artística, e se a nível de desempenho o ambiente visual de We Love Katamari é um produto do seu tempo, o tratamento colorido e limpinho deste Royal Reverie ajuda a que seja um deleite para os olhos. Como o é igualmente a banda sonora, uma coleção de música pop que vai do divertido ao disparatado (e agora com possibilidade de escolha em cada nível) e que muito facilmente fica no ouvido, juntamente com os sons produzidos por alguns dos objetos que apanhamos pelo caminho – destaque para a conhecidíssima melodia do início de Pac-Man, que ouvimos quando num dos níveis mais tardios enrolamos uma máquina de arcada no nosso Katamari.

Royal Reverie traz também uma novidade sob a forma de multijogador cooperativo offline, onde cada jogador vai usar um Joy-Con para controlar o mesmo Katamari, num esforço que requer coordenação e que muito rapidamente resvala para o caos completo. Encontram-se ainda uma série de pequenos bónus que complementam a alegria surreal que é este capítulo da série Katamari, desde as sequências cinemáticas que ajudam a compor o enredo ao modo “selfie” onde tiramos fotografias ao longo dos níveis, e até níveis extra que nos permitem descobrir momentos da vida do Rei. Se os eventos centrais do enredo podem ser terminados com quatro a cinco horas de jogo, descobrir todos os elementos e bónus exige aproximadamente o dobro do tempo.

CONCLUSÃO

CONCLUSÃO
9 10 0 1
We Love Katamari Reroll+ Royal Reverie é uma festa. Desde o enredo absurdo aos pormenores adoráveis e cómicos de cada nível, passando pela banda sonora viciante e sensação de estarmos a ser enrolados pelos eventos do jogo, temos aqui um “remaster” belíssimo que nos vai manter agarrados à Nintendo Switch durante muitas e boas horas. Aconselhado a todos os fãs de jogos que não se levam demasiado a sério e que apreciem uma experiência que tem tanto de mirabolante como de cativante.
We Love Katamari Reroll+ Royal Reverie é uma festa. Desde o enredo absurdo aos pormenores adoráveis e cómicos de cada nível, passando pela banda sonora viciante e sensação de estarmos a ser enrolados pelos eventos do jogo, temos aqui um “remaster” belíssimo que nos vai manter agarrados à Nintendo Switch durante muitas e boas horas. Aconselhado a todos os fãs de jogos que não se levam demasiado a sério e que apreciem uma experiência que tem tanto de mirabolante como de cativante.
9/10
Total Score

Pontos positivos

  • Experiência muitíssimo recompensadora
  • Qualidade da adaptação audiovisual

Pontos negativos

  • Momentos de deslocação mais difícil

João Dias

Apreciador de jogos de outras épocas, não diz que não a uma boa obra dos nossos tempos. Diz-se que é por ele que passam os textos antes da publicação, o que significa que é uma espécie de boss final da escrita para os outros membros da equipa.