Torchlight III – Análise
A Runic Games sabe fazer videojogos: direção artística abonecada e convidativa, jogabilidade apurada e divertida e muitos, muitos objetos por apanhar. No entanto, o mesmo não pode ser dito de Torchlight III. Após dois RPGs de ação muito bem feitos, género onde a série Diablo continua a ser fonte de inspiração para muitos, a verdade é que esta terceira oferta sabe a muito pouco. Talvez parte da razão esteja no desenvolvimento: Torchlight III foi originalmente pensado para ser um MMO “free-to-play” com o nome de Torchlight Frontiers. Em janeiro de 2020 a equipa mudou o projeto por completo e assim nasceu Torchlight III, a sequela do segundo jogo.
O enredo segue os eventos do jogo anterior. Devido ao estado do mundo após Torchlight II, os Netherim tentam explorar uma maneira de se apoderarem de Novastraia, o palco principal para a série. A série Torchlight nunca foi conhecida por ter um enredo e não é este terceiro capítulo que vai mudar isso. O ênfase vai assim todo para a jogabilidade frenética, a marca mais reconhecida da série. Infelizmente e para um terceiro jogo, a pastilha que já vem a ser mastigada desde 2009 precisa de mudanças.
Dito isso, a jogabilidade em pouco ou nada mudou desde Torchlight II. Sendo realistas, a fórmula torna-se cada vez mais estagnada ao ser contrastada com tanta oferta disponível no mercado: Path of Exile, Victor Vran, Diablo, Titan Quest, Grim Dawn, entre tantos outros onde cada um trouxe a sua especialidade, mas aqui tudo continua na mesma. Para quem adora a fórmula isto não tem mal nenhum, mas após três jogos espera-se que alguma coisa mude. Só que nada muda. O jogador escolhe uma de quatro classes, personaliza um pouco a personagem e passa horas intermináveis na mesma ação repetitiva.
No início da aventura o jogador vai escolher uma classe e neste aspeto, Torchlight III não é amigo de jogadores recém-chegados. Para além dessa escolha, junta-se uma sub-classe onde convém ler e ter noção de todas as habilidades para se perceber como tudo vai ser conjugado. Caso contrário, fica-se com uma personagem para apagar e iniciar tudo de novo. Para ajudar à festa, é extremamente difícil voltar à estaca zero com uma personagem. Quando esta é do agrado do jogador, o resto é demasiado reconhecível: subir de nível, colocar pontos nas habilidades e terminar missões.
Torchlight III faz jus à expressão “outra vez arroz?”, mas ainda assim consegue trazer uma novidade interessante à jogabilidade: o jogador tem à disposição o seu próprio castelo, sob a forma de uma mecânica chamada “fort” (ou um forte). Este espaço encontra-se separado da jogabilidade principal e faz pouco sentido do ponto de vista do enredo. Ainda assim, é divertido decorar o nosso próprio canto e como se não bastasse esse trabalho de “querida, mudei o castelo”, ainda traz consigo melhorias para a personagem. É algo diferente dentro do que se encontra em RPGs de ação e muito bem-vindo, comprovando que quando a Runic Games quer, tem potencial na equipa para tentar coisas diferentes. Outro exemplo, no final da aventura, é a configuração de masmorras aleatórias de várias formas. Quando terminadas dão armamento mais poderoso.
É impossível contornar o inevitável: não existe praticamente nada de novo em Torchlight III que prenda a atenção do jogador. É mais do mesmo, dentro de um género com tanta oferta diferente e mais aliciante. Vai certamente agradar aos fãs da série, mas pouco ou nada faz para tentar conquistar quem não a conheça. Isto não deixa de ser infeliz de se assinalar porque a equipa da Runic Games já mostrou que tem boas capacidades, mas a mudança repentina de um MMO para uma sequela da segunda entrada na série em tão pouco tempo acabou por prejudicar o desenvolvimento e resultado final do jogo.
CONCLUSÃO
CONCLUSÃOPontos positivos
- Boa jogabilidade
- Gráficos coloridos
- Mecânica "fort"
Pontos negativos
- Dificuldade em experimentar novas classes
- Pouca variedade em relação aos anteriores
Analisar um videojogo é como uma experiência gastronómica: pode correr muito bem, muito mal ou não correr de todo. Pelo menos é o que este membro da equipa acredita. No entanto, nunca deixará que a sua fome altere os critérios de análise. Pelo menos não muito.