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Absolum – Análise

Absolum é um daqueles “roguelites” em que o rótulo faz todo o sentido. Desenvolvido pelas mentes responsáveis por Streets of Rage 4, Absolum assume-se como um “beat’em up” de fantasia construído à volta de um ciclo simples mas eficaz: escolher uma personagem, entrar em níveis gerados de forma semi-aleatória, acumular melhorias, e ver até onde se aguenta antes de tudo desabar… para depois recomeçarmos, ligeiramente mais fortes e um pouco mais sábios. Na Nintendo Switch, encaixa naturalmente em sessões curtas, seja como experiência portátil ou na televisão, apostando num combate imediato e numa repetição assumida, onde cada vez que jogamos serve tanto para progredir como para afinar o próprio jogo do jogador.

A base é um “brawler” 2D clássico com quatro heróis bastante distintos. Há o anão que mistura punhos e armas de fogo, a elfa com uma espada enorme e alcance generoso, o assassino rápido com duas lâminas, e o feiticeiro-rã que conjuga magia e mobilidade aérea. Cada um tem ataques ligeiros e fortes, esquivas, golpes especiais, e sinergias próprias com as melhorias que vamos encontrando cada vez que jogamos. Esta variedade não é só cosmética: mudar de personagem muda realmente o ritmo e a forma como se aborda cada confronto, o que ajuda a manter o jogo interessante uma e outra vez.

A estrutura “roguelite” segue percursos ramificados, onde fazemos decisões frequentes sobre o caminho a seguir e o tipo de recompensa a priorizar. Mais dinheiro, uma nova “inspiração” (habilidade ativa), uma bênção passiva ou um desvio para uma área de alto risco, recompensa alta. Se morremos, parte do nosso avanço reverte em pontos que podem ser investidos em melhorias globais, a desbloquear novas opções, e em ajustes subtis que tornam as tentativas seguintes mais viáveis. Não há grande novidade aqui para quem já anda habituado ao género, mas o sistema é bem associado ao combate. É fácil sentir aquele impulso de mais uma sessão porque ficámos perto de vencer um “boss” ou porque desbloqueámos uma combinação nova que apetece testar.

O combate é o grande trunfo de Absolum. Os impactos têm peso, a resposta aos nossos comandos é rápida, e os inimigos obrigam a respeitar os padrões de movimentos, especialmente quando o ecrã começa a encher. Entre combos, projéteis, magias e ataques de área, há sempre muito para gerir, e o jogo incentiva a usar o cenário a nosso favor: vamos encostar grupos às paredes, empurrar inimigos na direção de armadilhas, e aproveitar desníveis no terreno. A curva de dificuldade é elevada mas justa, os primeiros minutos com cada personagem são de adaptação, mas quando a movimentação encaixa, o jogo torna-se muito satisfatório. Quem gosta de tentar configurações diferentes vai encontrar aqui bastante margem para as experimentar. Há melhorias que reforçam ataques básicos, outras que enfatizam danos em área, outras ainda que pedem um estilo de jogo mais arriscado em troca de recompensas maiores.

Em contrapartida, a parte mais “rogue” traz também alguns pontos menos positivos. Como em muitos jogos do género, há sessões em que o tipo de melhorias que nos calha não favorece a personagem escolhida, e isso pode tornar uma tentativa pouco divertida quase desde o início. A variedade de biomas e inimigos é competente, mas ao fim de algumas horas começam a notar-se padrões repetidos, sobretudo em encontros mais simples. O enredo é pouco mais do que um pretexto para a ação: há um mundo de fantasia com um tirano, uma resistência e um grupo de heróis, mas o foco está claramente na ação e não numa história memorável. Para o tipo de experiência que Absolum quer ser, não chega a ser um problema grave, mas quem espera algo mais envolvido em termos de enredo vai ficar a meio caminho.

Do lado técnico, na Nintendo Switch o jogo tira bom partido do estilo visual. A direção artística em 2D e as animações são muito fluidas, com um visual de “arcade” moderno que funciona bem, tanto na televisão como no ecrã da consola. Em termos de desempenho o objetivo são os 60 fotogramas por segundo, mas com quedas ocasionais quando o ecrã está bastante cheio. Nada de dramático, mas quem é mais sensível a oscilações vai notar. A direção artística ajuda a disfarçar as limitações de resolução no ecrã da Switch, e o resultado final é bastante agradável aos olhos.

O modo cooperativo local a dois jogadores encaixa naturalmente no formato. Partilhar o ecrã a limpar salas e “bosses” dá ao jogo uma energia muito próxima das clássicas experiências “arcade”, e é talvez onde Absolum mais se destaca como “beat’em up” puro. A leitura do que se passa no ecrã continua clara mesmo com muita coisa a acontecer, mérito da direção artística e da forma como os efeitos foram pensados. Em contrapartida, não há grande esforço em contextualizar a cooperação, sendo totalmente direto em entrar na partida e bater em tudo e sobreviver até onde for possível, o que funciona, mas podia ter um pouco mais de estrutura à sua volta.

CONCLUSÃO

CONCLUSÃO
9 10 0 1
Absolum impõe-se como uma opção muito boa para quem aprecia tanto "beat’em ups" como "roguelites". O combate tem peso e ritmo, as quatro personagens oferecem estilos suficientemente distintos para merecer várias voltas, e o ciclo está bem afinado para puxar pelo habitual “só mais uma vez”. A repetição e o enredo discreto fazem parte do pacote e podem afastar quem procura algo mais narrativo, mas acabam secundarizados pela sensação constante de progressão, pelo impacto de cada combo bem encaixado, e pela vontade genuína de voltar a entrar na arena depois de cada falhanço. Para quem vive bem com esta lógica de tentativa e erro, é um jogo que facilmente se torna viciante. Um das melhores propostas do género.
Absolum impõe-se como uma opção muito boa para quem aprecia tanto "beat’em ups" como "roguelites". O combate tem peso e ritmo, as quatro personagens oferecem estilos suficientemente distintos para merecer várias voltas, e o ciclo está bem afinado para puxar pelo habitual “só mais uma vez”. A repetição e o enredo discreto fazem parte do pacote e podem afastar quem procura algo mais narrativo, mas acabam secundarizados pela sensação constante de progressão, pelo impacto de cada combo bem encaixado, e pela vontade genuína de voltar a entrar na arena depois de cada falhanço. Para quem vive bem com esta lógica de tentativa e erro, é um jogo que facilmente se torna viciante. Um das melhores propostas do género.
9/10
Total Score

Pontos positivos

  • Combate dinâmico, com quatro personagens bem distintas
  • Sistema "roguelite" bem integrado, com muitas combinações possíveis de melhorias
  • Direção artística forte e com animações fluídas

Pontos negativos

  • Enredo e mundo são apenas um pretexto para a ação
  • Repetição inevitável ao fim de muitas sessões

Nuno Nêveda

Calorias, nutrientes e Nintendo. Três palavras que definem o maior fã de F-Zero cá do sítio. Adepto de hábitos alimentares saudáveis, quando não anda atrás de uma balança, costuma estar ocupado com as notícias mais prementes e as análises mais exigentes.

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