Broken Sword – Shadow of the Templars: Reforged – Nintendo Switch 2 Edition – Análise
Broken Sword é sinónimo de aventuras gráficas “point and click” que nos levam a protagonizar investigações sobre conspirações históricas com cenários belíssimos como pano de fundo. Embora dois dos seus cinco jogos não sigam o formato clássico das aventuras gráficas e não haja um novo título na série desde 2013, Broken Sword – Shadow of the Templars de 1996 continua a ser visto como um dos pontos altos dos jogos de aventuras gráficas.

Broken Sword – Shadow of the Templars: Reforged é um “remake” do original de 1996 (e não da versão Director’s Cut de 2009 para Wii e Nintendo DS) para os formatos contemporâneos, onde se incluem a Nintendo Switch e a Nintendo Switch 2. A versão aqui analisada corresponde à edição para Switch 2, mas quem adquire este Broken Sword para a Switch original pode aceder à versão para Switch 2 por mais €4,99. Posto isto, o que aqui temos é um tratamento moderno a um dos jogos de aventura “point and click” mais apreciado de todos os tempos. O jogo original não sofreu mudanças a nível do enredo, das ações ou das personagens. As grandes mudanças são a nível técnico e no que diz respeito à interação.
Shadow of the Templars: Reforged é então um “remake” muito flexível e com bastantes opções, o que é um desenvolvimento muito bem-vindo. O jogo permite-nos aceder à experiência original, com os mesmos gráficos de 1996, e com as mesmas interações e interface, ou escolher a versão contemporânea, onde todos os cenários foram desenhados novamente, e as interações e interface são mais acessíveis e rápidos, num esforço que torna o jogo mais simpático para com os jogadores atuais. Destaque positivo também para a flexibilidade das opções: podemos jogar com o ambiente visual moderno, por exemplo, mas mantendo a interação do original… ou vice-versa. Podemos também escolher os parâmetros que dizem respeito às pistas e à interação com os objetos e pessoas. Na Nintendo Switch 2, é também possível utilizar os Joy-Con como um rato, o que recria a experiência do original para PC e encaixa melhor no mundo dos jogos “point and click”, embora a utilização do controlo analógico funcione sem qualquer problema.

Com tudo isto sobre o trabalho de conversão para a nossa era, o que dizer do jogo propriamente dito? Continua a ser uma aventura gráfica muito interessante onde encarnamos um turista norte-americano chamado George Stobbart. Depois de ter testemunhado um roubo seguido de uma explosão que matou um homem sentado na esplanada de um café em Paris, George envolve-se numa (aparente) caça ao ladrão e assassino. A cada etapa, esta jornada torna-se mais ambiciosa, até descobrirmos que estamos a enfrentar uma terrível conspiração de ambições históricas liderada por seguidores contemporâneos da antiga ordem dos Templários e que, como não podia deixar de ser, querem ser os grandes potentados do nosso mundo (no final do século XX, afinal trata-se de um jogo ‘de época’, por assim dizer). O homicídio e roubo de artefactos históricos fazem cada vez mais sentido à medida que avançamos, apoiados por uma jornalista de investigação e com viagens múltiplas a locais de interesse como um castelo abandonado irlandês, os esgotos de Paris, uma aldeia síria, uma herdade espanhola, e umas ruínas escocesas, e onde desvendamos mistérios de origem histórica e religiosa, com efeitos bem reais no nosso mundo.
Em cada local que visitamos realizamos as ações comuns aos jogos de aventura “point and click”: falamos com pessoas, encontramos objetos, interagimos com pistas. Os objetos que transportamos podem ter um aspeto perfeitamente banal, mas em momentos pontuais tornam-se importantíssimos: quem diria, por exemplo, que um nariz de palhaço que apanhamos logo no início nos vai permitir aceder a um esgoto parisiense? Ou que um pequeno aparelho que dá choques ligeiros ao apertar a mão de alguém nos vai salvar a vida num ponto fundamental da história? Felizmente, o jogo é bastante dinâmico e não nos pretende colocar problemas impossíveis, até porque em alguns momentos a solução não é evidente – se cometermos um erro, podemos tentar todas as hipóteses possíveis até acertarmos; se cometermos um erro mais grave e o nosso protagonista morrer, voltamos ao ponto anterior. O jogo permite-nos ainda escolher se queremos consultar pistas, que normalmente não são demasiado explícitas, mas que dão uma ajuda bem-vinda nos momentos cruciais. A estrutura é essencialmente linear. Isto não significa que não vamos regressar a pontos já visitados ou voltar a conversar com pessoas que já conhecemos, mas tudo isto é comandado pelo enredo e não pelo jogador. Seguindo um ritmo normal, com alguma exploração e com a curiosidade de descobrirmos todos os diálogos e resultados possíveis, a aventura terá uma duração de aproximadamente 7-8 horas. Jogadores mais diretos e com um melhor olho para as pistas poderão terminar a aventura em pouco mais de 5 horas.

Por vezes vai ser preciso ter atenção aos reflexos, já que algumas interações exigem uma resposta imediata, mesmo que este não seja um jogo de ação; outras vezes vamos ter de ser muito cautelosos, já que em alguns (poucos) momentos podemos morrer; e outras vezes vamo-nos divertir com algumas respostas completamente inusitadas vindas de algumas das personagens. Os diálogos são sempre um gosto de se ler e de ouvir – e os textos encontram-se traduzidos numa série de idiomas, entre os quais português do Brasil. As vocalizações não raras vezes entram num território cómico, e as personagens de outras nacionalidades frequentemente falam com uma pronúncia exagerada que se encontra normalmente em produções mais cómicas, mesmo quando o tema do diálogo é sério, e que nos fazem pensar em lugares-comuns mais antigos que hoje em dia provocam uma certa vergonha alheia.
Broken Sword – Shadow of the Templars: Reforged é um gosto de se descobrir, mesmo quando em alguns momentos a solução não é aparente. É sempre divertido explorar todos os diálogos possíveis com todas as personagens, e ver que mais tiradas insólitas vamos ouvir, mesmo de personagens que não desempenham um papel importante na trama. É também impressionante constatar o trabalho visual e artístico que entrou neste “remake”: os cenários são belíssimos de se ver, respeitam o original, mas são um enorme salto em frente em relação ao estilo “pixel art” do jogo original, que tinha um aspeto visual muitíssimo bom para o ano de 1996. Quem gosta de observar estas diferenças vai achar interessante comparar os dois estilos, algo que é possível fazer a qualquer altura nas opções, que também nos permitem mudar os parâmetros de interação a qualquer momento. Isto significa que em qualquer ponto da aventura podemos escolher se queremos jogar de forma mais semelhante ao original ou de uma maneira mais contemporânea, o que é muito bem-vindo. Já as sequências cinemáticas animadas, que surgem em alguns momentos onde o enredo avança, acabam por ficar a perder e denunciam um pouco a sua idade.
Ao longo da experiência, o jogo sabe lidar com as diferenças entre o que os jogadores do nosso tempo esperam e o que era considerado como uma boa aventura gráfica em 1996. Ainda assim, e mesmo com todos os pequenos pormenores deliciosos, nota-se que o jogo demora algum tempo até nos colocar no coração da trama: é só sensivelmente a meio da aventura que nos apercebemos finalmente do que está em jogo, e é também aí que ouvimos falar pela primeira vez da tal ‘espada partida’ que dá nome ao jogo. Ainda assim, é uma aventura muito interessante de se percorrer, e as mudanças em relação ao original e a flexibilidade de opções fazem desta uma experiência muito bem adaptada.
CONCLUSÃO
CONCLUSÃOPontos positivos
- Adaptação visual belíssima
- Flexibilidade das opções entre o original e o contemporâneo
- Diálogos e textos divertidos
- Enredo interessante, mesmo que implausível
Pontos negativos
- Enredo demora algum tempo para se impor
- Alguns pontos acusam a idade

Apreciador de jogos de outras épocas, não diz que não a uma boa obra dos nossos tempos. Diz-se que é por ele que passam os textos antes da publicação, o que significa que é uma espécie de boss final da escrita para os outros membros da equipa.

