AnálisesSwitch 2

Kirby Air Riders – Análise

Jogos da série Kirby não faltam nas consolas da Nintendo. Jogos de corridas baseados na série Kirby, esses são mais raros. Na verdade, são apenas três – Kirby Air Ride (2003), Kirby’s Dream Buffet (2022) e agora, Kirby Air Riders, que chega à Nintendo Switch 2 depois de ter sido anunciado de forma inesperada pelo próprio criador, Masahiro Sakurai, numa Nintendo Direct em abril deste ano. Claro que chamar-lhe ‘jogo de corridas’ é uma simplificação grosseira, qualquer semelhança entre esta obra da HAL e um simulador de corridas de carros é, como se diz no mundo da ficção, pura coincidência. Os mais desprevenidos podem ser surpreendidos mas quem sabe um pouco mais já conta com o que Kirby Air Riders promete: um caos imparável, viciante, e sempre em movimento.

Se a base é realmente a de um jogo de corridas onde temos de chegar ao fim de um percurso antes dos adversários, Kirby Air Riders vai muito além destes limites. Tal como no seu antecessor, a aceleração é automática, um pormenor com que não temos de nos preocupar porque estamos demasiado concentrados na direção do veículo, nos objetos que apanhamos, na forma como abordamos as curvas e obstáculos, nos combates com adversários… Depois, porque as corridas propriamente ditas são apenas uma parte do jogo, que inclui modos e desafios onde embora utilizemos um veículo para nos movermos, nem sempre temos como fim chegar antes dos adversários. Há aqui muito combate e muitos minijogos, e fazem parte fundamental da experiência de Kirby Air Riders.

Ao começarmos, temos à disposição um tutorial bastante bem organizado que nos explica as principais mecânicas que vamos utilizar, e põe-nos a experimentá-las para confirmar que as percebemos bem. São tantas que facilmente nos podemos esquecer, mas depois de começarmos a jogar vemos que o tutorial é muito bem-vindo. Kirby Air Riders encontra-se estruturado em quatro modalidades distintas: uma de corridas simples, chamada Air Ride; uma de corridas mais curtas e vistas a partir de cima, chamada Top Ride; uma que consiste num desafio em espaço aberto, seguido de um desafio sob a forma de um minijogo, chamada City Trial; e uma que se assemelha a uma aventura sobre rodas onde desbloqueamos desafios e caminhos, chamada Road Trip. Cada uma com as suas regras.

Se Air Ride é a que à partida mais se destaca, com os seus percursos elaborados cheios de obstáculos que exigem ao jogador um conhecimento apurado dos comandos ensinados no tutorial e das habilidades especiais de cada piloto, as outras modalidades não são menos interessantes. Top Ride, que se assemelha a uma corrida de carrinhos em circuitos simples, é muito mais divertida do que pode parecer à partida. City Trial, por sua vez, é muito ambiciosa. Aqui participamos em dois desafios: no primeiro somos colocados numa arena onde, dentro de um limite de tempo, vamos reunir a maior quantidade possível de itens para desenvolver as capacidades do nosso veículo, em competição com uma série de adversários; no segundo, entramos num minijogo que pode ser um combate com um “boss”, queda livre com marcação de pontos, comer o máximo de iguarias que se encontram pelo caminho (é Kirby, não é?), combate com os outros adversários, e outros tipos de desafios onde os itens que recolhemos para o nosso veículo podem fazer toda a diferença. Finalmente, a modalidade Road Trip é uma das mais interessantes, e quase imprime ao jogo um esboço de um enredo (embora tal não seja preciso): trata-se de uma série de percursos onde, cada vez que nos cruzamos com alguém na estrada, participamos num desafio (vd. City Trial), enfrentamos “bosses”, encontramos personagens que nos abrem percursos alternativos, e apanhamos objetos que desbloqueiam sequências cinemáticas onde é dada uma explicação plausível para Kirby & Ciª estarem neste jogo.

Como funcionam estas modalidades? Muito bem, com bastante caos e confusão à mistura. As corridas, seja em Air Ride ou em Top Ride, colocam à prova a nossa capacidade de tirar partido das curvas, dos objetos e dos obstáculos, e exigem que saibamos utilizar a mecânica de propulsão – se a aceleração é automática, o botão B permite-nos travar o veículo, e quando o fazemos acumulamos energia que permite dar um impulso acelerado ao veículo, algo essencial para lidar com curvas apertadas e para ganhar seja o que for. Os percursos são muito bem desenhados, as cores são vivíssimas (se há coisa que não falta em Kirby Air Riders é cor aos molhos), e vamos estar sempre em bicos de pés porque o jogo não dá um segundo de descanso, mesmo quando estamos à frente. City Trial é possivelmente a modalidade que mais tempo vai consumir aos jogadores. É uma delícia explorar uma arena onde ao longo de alguns minutos encontramos todo o tipo de itens para desenvolver o veículo e em luta constante com os adversários, quase nos esquecemos do resto. Já Road Trip é cativantes porque queremos avançar no percurso e descobrir todas as vias possíveis, e embora o enredo não seja propriamente digno de um prémio Nobel, é sempre interessante saber mais.

Talvez a verdadeira essência de Kirby Air Riders não sejam as técnicas, o desenho dos percursos, ou a qualidade dos desafios, mas antes o colecionismo. Desde o momento em que começamos a jogar vamos olhar muitas vezes para o canto superior direito e ver que notificação é aquela e o que acabámos de fazer pela primeira vez. São tantos os objetivos, distribuídos pelas diferentes modalidades, e à medida que os cumprimos vamos preencher painéis como se fossem “puzzles”. Sempre que fazemos algo pela primeira vez ganhamos alguma coisa, seja um novo piloto (o número total é de 21), um novo veículo (são 28 no total), itens para melhorarmos o nosso veículo, ou apenas elementos decorativos. Estes objetivos incluem coisas mais simples, como ganhar uma corrida em Air Ride e começar a Road Trip, ou coisas compreensão menos óbvia, como sermos atingidos por um relâmpago numa das arenas da City Trial. Tudo recompensado.

Como não poderia deixar de ser, a vertente multijogador faz parte integral da experiência, e também aqui o jogo faz tudo à grande. Desde o multijogador local, que permite até quatro jogadores na mesma consola (cada um com um Joy-Con) e ecrã dividido, às modalidades “online” onde podem participar 16 e até 32 jogadores. No multijogador “online”, nota-se que é mais rápido encontrar adversários em alguns desafios do que noutros, e talvez o mais célere seja a vertente Paddock, onde acedemos a uma sala com outros jogadores (ou criamos a nossa própria sala) e participamos em eventos à escolha. As modalidades City Trial e Top Ride são talvez as que mais se destacam quando jogadas online. Finalmente, Kirby Air Riders porta-se muito bem. Até no ecrã da Switch 2 tudo corre com bastante fluidez, mesmo com um milhão de objetos a aparecer ao mesmo tempo, e sem qualquer problema. O ambiente audiovisual também sai favorecido, em parte porque estamos tão ocupados com o caos que prestamos menos atenção aos pormenores, mas nota-se nos momentos mais calmos que alguns cenários poderiam estar mais compostos. Os controlos apresentam uma certa curva de aprendizagem que requer um pouco de tempo da nossa parte, enquanto a banda sonora traz novas versões de temas clássicos e composições novas num estilo extremamente frenético. Nota muito positiva para a acessibilidade do jogo: desde os idiomas (incluindo português do Brasil) às opções alargadíssimas, é possível determinar desde o tamanho do texto às informações no ecrã, os tipos de cor mais visíveis (a pensar em pessoas com diferentes formas de daltonismo), as músicas que ouvimos em diferentes partes do jogo, e muitas outras. Quem gosta de experiências personalizadas tem aqui um verdadeiro tesouro. Finalmente, é um jogo que encaixa muitíssimo bem no formato portátil, e um companheiro perfeito para a Nintendo Switch 2.

CONCLUSÃO

CONCLUSÃO
8 10 0 1
Kirby Air Riders não é só um jogo de corridas. É um jogo onde se corre com veículos, onde se combate, e onde se participa em minijogos, sempre com um ambiente frenético à volta, pautado por um ambiente audiovisual delicioso, e experiências de duração perfeitamente equilibrada, como se soubesse exatamente o que nós queremos. As quatro modalidades têm todas os seus pontos fortes, enquanto o multijogador permite tirar ainda mais partido do caos. Kirby Air Riders mal nos deixa respirar, e é mesmo isso que se quer.
Kirby Air Riders não é só um jogo de corridas. É um jogo onde se corre com veículos, onde se combate, e onde se participa em minijogos, sempre com um ambiente frenético à volta, pautado por um ambiente audiovisual delicioso, e experiências de duração perfeitamente equilibrada, como se soubesse exatamente o que nós queremos. As quatro modalidades têm todas os seus pontos fortes, enquanto o multijogador permite tirar ainda mais partido do caos. Kirby Air Riders mal nos deixa respirar, e é mesmo isso que se quer.
8/10
Total Score

Pontos positivos

  • Experiência frenética e caótica, no melhor sentido
  • Variedade das quatro modalides de jogo
  • Quantidade incrível de objetivos e colecionáveis
  • Muitíssimas possibilidades de personalização

Pontos negativos

  • Curva de aprendizagem nem sempre muito acessível
  • Alguns minijogos são pouco inspirados

João Dias

Apreciador de jogos de outras épocas, não diz que não a uma boa obra dos nossos tempos. Diz-se que é por ele que passam os textos antes da publicação, o que significa que é uma espécie de boss final da escrita para os outros membros da equipa.

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