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Snoopy & The Great Mystery Club – Análise

Peanuts é um dos maiores nomes da cultura pop moderna. A banda desenhada de jornal, que recentemente celebrou o seu 75º aniversário, tornou mundialmente conhecidas personagens como Snoopy, Charlie Brown, Woodstock, Lucy, Linus, Peppermint Patty, e outros que além da banda desenhada, ainda apareceram em inúmeras adaptações animadas e adornam incontáveis artigos de merchandising. Os videojogos não ficaram de fora, mas nos últimos quinze anos foram apenas quatro as obras baseadas nas personagens da série Peanuts, e os dois jogos mais recentes ficaram-se pelos dispositivos móveis.

Snoopy & The Great Mystery Club, do estúdio canadiano Cradle Games e publicado pela GameMill, é o primeiro jogo desta geração baseado na série criada por Charles M. Schulz (1922-2000), trata-se de um jogo de aventura e resolução de “puzzles” onde vamos realizar uma série de tarefas de investigação. Snoopy & The Great Mystery Club coloca-nos num meio que associamos imediatamente à banda desenhada: colorido, simples, suficientemente incaracterístico para ser em qualquer lado na América do Norte, e com um ar vago, mas sempre presente de que decorre num mundo como o nosso… mas um pouco diferente. No papel de Snoopy, vamos formar um grupo com outras figuras do universo Peanuts e resolver uma série de mistérios do quotidiano. O jogo está dividido em quatro capítulos, para solucionar cada um seguimos uma abordagem passo-a-passo, e resolvemos tarefas pela ordem que nos são dadas.

Não se tratando de uma obra com uma trama complexa, os mistérios são bastante simples. Vamos ajudar as outras personagens a encontrar o equipamento de futebol americano perdido, a descobrir a origem de uma música misteriosa, ou a apurar se existe um monstro na lagoa do campo de férias. Para tal vamos investigar locais como a vizinhança de Snoopy e Charlie Brown, a escola dos protagonistas, um bosque na periferia da cidade, etc. Ao longo do jogo Snoopy recebe uma série de fatiotas com objetos diferentes para ajudar na investigação, desde acessórios à Sherlock Holmes para seguir pegadas à indumentária de jardineiro com um soprador de folhas, passando pelo fato de pirata com uma pá para escavar em pontos de interesse ou ainda o de prospetor com um detetor de metais. Todos são cruciais, e vamos usá-los várias vezes de forma sucessiva, num bom encadeamento de contribuições para as mecânicas de jogabilidade.

O jogo não se podia desenrolar de forma mais simples. O meio onde a ação se passa tem pouco para nos distrair, e o jogo diz-nos quase tudo sobre onde devemos ir e o que devemos fazer. O mapa e a lista de objetivos são claríssimos, e à medida que avançamos e acedemos a novos locais podemos usar o autocarro para viajar rapidamente. Em cada capítulo vamos participar em minijogos para obter um objeto ou recolher uma pista. Estes assumem formas como atirar bolas de basebol, um jogo de memória, ou corridas de carrinhos de rolamentos e as célebres perseguições aéreas de Snoopy ao seu inimigo, o Barão Vermelho. Os minijogos são bem-vindos, trazem alguma ação necessária ao jogo e cada um tem três níveis de dificuldade. Por outro lado, deixam a sensação de que podiam ser mais, e um pouco mais exigentes. Nos minijogos de carrinhos e de aviação é possível usar os controlos de movimentos da Switch, inclinando a consola na horizontal e vertical, e com a possibilidade de ajustar a sensibilidade a qualquer momento, embora o controlo convencional funcione melhor.

A investigação e resolução dos mistérios faz-se muito bem, de forma simples e acessível, e é sem dúvida algo que vai agradar aos mais novos. Nota positiva também para o meio audiovisual, onde as personagens e os cenários seguem os modelos CGI das adaptações animadas recentes, enquanto a banda sonora é baseada nas composições de jazz da série – exceto no minijogo de música, onde interpretamos uma versão muito simples do Hino da Alegria de Beethoven no papel de Schroeder, o músico do grupo. O desempenho não é perfeito, em alguns momentos onde se encontram bastantes objetos no ecrã nota-se uma perda de fluidez, e pontualmente vemos os modelos das personagens a atravessarem-se uns aos outros. Menção positiva para as vocalizações das personagens. Já o texto está disponível em seis línguas, mas o português não está entre elas, infelizmente para os jogadores mais novos.

Temos assim um jogo simples, que nos pega pela mão e coloca-nos a resolver pequenos mistérios, com alguns minijogos e um pequeno incentivo a apanhar páginas de banda desenhada de Peanuts que se encontram pelo caminho e que podemos ler no menu inicial ou nas caixas de jornais. Tudo funciona bem, mas em vários momentos perguntamo-nos se algumas etapas não são redundantes – como é possível que algumas destas crianças percam tanta coisa? Mais do que uma vez, vamos estar de acordo com Lucy, a eterna cética do grupo, quando tivermos que repetir o mesmo percurso por um motivo fútil. Mas isto não é grave.

Apesar de termos espaços potencialmente interessantes a explorar, fora do âmbito dos mistérios há muito pouco que fazer. Um jogador curioso vai sentir-se tentado a espreitar em cada caixote, verificar cada monte de folhas, cavar cada monte de areia, e descobre que na maioria das ocasiões, não se encontra nada – ou pelo menos nada de importante. O jogo tem um mundo, mas o mundo tem pouca coisa. É verdade que o mundo de Peanuts é um pouco assim (tal como na banda desenhada, aqui não existem adultos, nem sequer com vozes de saxofone), mas não faria mal acrescentar-lhe um pouco mais para ver e fazer. O que é mais grave e não se compreende é a forma como ao acabarmos o jogo – ou seja, ao terminarmos o último capítulo – somos impedidos de voltar, e temos de abrir um ficheiro novo. Sim, quando terminamos o quarto capítulo, depois de uma sequência final, o jogo considera o ficheiro encerrado, e não podemos voltar atrás para encontrar alguma página de BD que nos tenha escapado ou para revisitar algum sítio. Difícil de compreender, e pouco simpática para com o público-alvo, ainda que sejamos avisados quando nos preparamos para terminar o último capítulo.

CONCLUSÃO

CONCLUSÃO
6 10 0 1
Snoopy & The Great Mystery Club faz um bom trabalho enquanto jogo simples de resolução de mistérios no universo Peanuts. Acessível e sem margem para grandes problemas, o jogo insere-nos no meio da BD, e vai apelar aos fãs mais jovens da série. Por outro lado, e embora o retrato do mundo Peanuts seja positivo, o jogo tem pouco para fazer além dos objetivos, e os minijogos acabam por ser pouco exigentes. Difícil ainda de perceber por que motivo não podemos regressar a um jogo que completámos.
Snoopy & The Great Mystery Club faz um bom trabalho enquanto jogo simples de resolução de mistérios no universo Peanuts. Acessível e sem margem para grandes problemas, o jogo insere-nos no meio da BD, e vai apelar aos fãs mais jovens da série. Por outro lado, e embora o retrato do mundo Peanuts seja positivo, o jogo tem pouco para fazer além dos objetivos, e os minijogos acabam por ser pouco exigentes. Difícil ainda de perceber por que motivo não podemos regressar a um jogo que completámos.
6/10
Total Score

Pontos positivos

  • Coloca-nos no universo Peanuts
  • Acessível e simples, ótimo para os mais jovens
  • Direção artística e vocalizações

Pontos negativos

  • Pouco para fazer além dos objetivos
  • Impede-nos de regressar a um jogo completo
  • Falta de tradução para português

João Dias

Apreciador de jogos de outras épocas, não diz que não a uma boa obra dos nossos tempos. Diz-se que é por ele que passam os textos antes da publicação, o que significa que é uma espécie de boss final da escrita para os outros membros da equipa.

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