Fantasy Life i: The Girl Who Steals Time – Análise
Fantasy Life i: The Girl Who Steals Time é a sequela de Fantasy Life, um jogo de 2012 para a Nintendo 3DS, e que chega agora às principais plataformas de videojogos. Vinda da Level-5, selo com muitas referências onde se incluem nomes como Professor Layton, Inazuma Eleven e Yo-kai Watch, as expectativas são elevadas. Felizmente The Girl Who Steals Time mostra, com distinção, que merece todo o nosso tempo e atenção.

A melhor forma, e a mais óbvia, de o descrever seria chamar-lhe um RPG com elementos de simulação de vida. Por outras palavras, pegue-se num RPG com os seus elementos habituais como classes distintas de personagens, missões onde temos de cumprir determinados objetivos para ganhar experiência, obter recursos, etc. e junte-se-lhe a influência da série Animal Crossing e o resultado é The Girl Who Steals Time. Uma descrição que não é de todo errada, mas que merece um pouco mais de dedicação.
O jogo começa com uma introdução um pouco longa onde nos é apresentada uma sequência que coloca o nosso protagonista (personalizável de muitas maneiras) a bordo de um navio numa expedição liderada por um antropólogo em busca de uma ilha desconhecida e orientada por um fóssil de um dragão. O navio é subitamente atacado por um monstro alado fortemente armado, mas o fóssil ganha vida e defende os nossos amigos da criatura. Infelizmente o nosso protagonista e um pássaro, companheiro do líder da expedição, caem num portal e acordam numa ilha desconhecida de nome Riveria. Isto serve de apresentação ao motivo que anima a nossa personagem: voltar para casa. Uma coisa leva a outra, e para podermos acordar o fóssil de dragão e regressar ao nosso mundo, vamos inquirir os habitantes de Riveria, e é aqui que The Girl Who Steals Time realmente começa.

Depois de uma breve exploração numa ilha que se assemelha um pouco ao mundo do “remake” de Link’s Awakening, aprendemos então que vamos ter de desenvolver as nossas capacidades numa série de áreas, e para isso vamos ter de escolher uma Vida, terminologia do jogo para se referir a uma profissão. Existem 14 Vidas à escolha, e representam as habituais classes de personagens que encontramos num RPG, onde se incluem as de mago, mercenário, paladino, mas também lenhador, agricultor ou artista. Uma vez escolhida a nossa primeira Vida, são-nos apresentadas as nossas primeiras tarefas, e sob a orientação de um Mestre para cada Vida, vamos desempenhar uma série de ações que nos permitem aumentar a nossa experiência. Seria muito rígido se fosse apenas isto, mas felizmente o jogo coloca-nos a adotar mais Vidas para podermos ganhar mais dinheiro e experiência, e assim alargar as nossas capacidades. Desenvolver habilidades de magia e de combate com espada, juntamente com capacidades exímias de pesca e de alfaiataria encaixam perfeitamente na experiência, e é isto que The Girl Who Steals Time faz tão bem.
As Vidas não são todas iguais, e as que são mais centradas na ação – como as de Mago ou Paladino – vão certamente apelar mais aos apreciadores de RPGs, enquanto as Vidas mais centradas na recolha de recursos ou na produção de objetos apelam mais aos fãs de jogos com experiências mais tranquilas e com uma série de minijogos pelo meio, mas a verdade é que The Girl Who Steals Time não se limita a fazer uma soma simples entre RPG de ação + simulação de vida, e ainda bem. O jogo tem muitos elementos e influências daqueles géneros, e junta-os de forma fluida e dinâmica. As tarefas que desempenhamos são bastante acessíveis e podem ser abordadas rapidamente, pelo que é possível realizar várias tarefas que envolvem combates intercaladas com tarefas que implicam obtenção de recursos, sem qualquer obstáculo físico ou mental – embora aqui seja necessário mencionar que a agricultura é provavelmente a Vida mais aborrecida e repetitiva. A subida de experiência e recompensas obtidas permitem-nos então alargar o leque de habilidades que nos tornam melhores nas nossas atividades, e assim almejar a objetivos mais elevados. E vão ser muitos os objetivos, tarefas e atividades que vamos realizar, de forma simples e com a mesma naturalidade com que nos movemos pelo cenário. Uma das piores coisas que pode ocorrer num jogo com estes objetivos é depararmo-nos sem nada para fazer, ou pior ainda, sem motivação, felizmente The Girl Who Steals Time está acima disso.

Tudo isto decorre num mundo com muitas personagens secundárias simpáticas e faladoras, que nos vão dar uma série de pistas e contribuições ao longo da experiência. A interface do jogo, onde se incluem as habituais listas de tarefas, objetos que transportamos, registo dos diálogos e esquemas de habilidades, encontra-se bem organizada e é fácil de nos ambientarmos à sua utilização, tal como os controlos, que são bastante simples e respondem bem, algo bem-vindo quando os botões desempenham funções distintas de acordo com o contexto. O combate decorre de forma acessível e não exige muito mais do que saber um número curto de comandos, e ainda que este não seja um jogo inteiramente centrado no combate, este encontra-se sempre bem inserido nos nossos objetivos. Se à primeira vista, a enormidade de tarefas e de opções pode parecer intimidante, a verdade é que o jogo funciona de forma acessível e não nos deixa perder o fio à meada, mesmo com as múltiplas opções que nos aparecem pelo caminho. Os incentivos são sempre muitos e encontramos sempre algo que fazer, desde desenvolver as nossas habilidades, ajudar a desenvolver a nossa aldeia, a explorar o mundo do jogo numa série de missões secundárias que fazem lembrar e muito a série Zelda, com torres e santuários e até uma árvore com personalidade própria. Do ponto de vista audiovisual, estamos perante um mundo que se não é o mais extraordinário que já se viu na Nintendo Switch, é apesar de tudo bastante simpático de se ver, colorido e bem desenhado, embora em alguns momentos pontuais a câmara se coloque onde não deve. As melodias são relativamente simples e se não nos arrebatem os ouvidos, encaixam bem nos seus espaços. É mais difícil compreender a utilização das vozes, que se limita a um número limitado de palavras por personagem.
Além disto, The Girl Who Steals Time permite ainda multijogador local, onde usando a mesma Switch o segundo jogador assume um papel de assistência sob a forma do pássaro referido anteriormente, e multijogador online, que permite até quatro jogadores e onde nos focamos na exploração de territórios em vez do sistema de Vidas, útil para ganhar pontos de experiência, mas que por si só não nos traz avanços no enredo. Estas duas adições são complementares à experiência, mas não são essenciais, e quem não lhes pegar não vai perder nada de fundamental.
CONCLUSÃO
CONCLUSÃOPontos positivos
- Muito bem estruturado e organizado
- Objetivos dinâmicos e motivantes
- Densidade impressionante de coisas para fazer
Pontos negativos
- O início é algo lento

Apreciador de jogos de outras épocas, não diz que não a uma boa obra dos nossos tempos. Diz-se que é por ele que passam os textos antes da publicação, o que significa que é uma espécie de boss final da escrita para os outros membros da equipa.